segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O "nosso" Sá Carneiro

Em finais de 2010, como em nenhum outro ano, foram publicados tantos e tão profundos trabalhos sobre o Fundador do PPD/PSD, desde a biografia de Francisco Sá Carneiro, de Miguel Pinheiro, passando pela tese de mestrado de Joana Reis, até às memórias de Conceição Monteiro.

Todas estas obras são contributos indeclináveis para quem queira conhecer ou aprofundar a extraordinária dimensão do homem, do advogado e do político, em especial desde os fascinantes tempos que medeiam o Concílio Vaticano II, convocado em 1961, a tentativa de mudar o Regime por dentro, com a "Ala Liberal", entre 1969 e 73, os alvores da construção de um País livre e democrático, após 25 de Abril de 1974, bem como a Proposta para um Portugal moderno, em 1979, abruptamente interrompida pela tragédia de Camarate, a 04 de Dezembro de 80.

Todavia, «O Meu Sá Carneiro - Reflexões sobre o seu pensamento político», (edição da D. Quixote), de José Miguel Júdice, será, porventura, o melhor ensaio alguma vez publicado sobre os pilares teóricos em que assenta convicção, visão e acção do Primeiro-Ministro que teve a primeira maioria parlamentar da III República, através da Aliança Democrática.

JMJ oferece-nos, pois, não apenas um retrato daquilo que foi, mas também uma análise, tão actual como equidistante, quer das conquistas alcançadas uns anos depois, quer do definhamento do "legado Sá-Carneirista", e também da "exaustão" e do "vazio" em que nos encontramos, a que veio juntar-se uma grave crise, dentro e fora das fronteiras, atirando-nos, mais uma vez para o torpor do "Impasse" presente.

Respostas, José Miguel Júdice, intelectualmente denso mas pragmático, preferindo não adiantar soluções panfletárias, opta por apreender e interpretar, trinta anos volvidos, a essência de um ideário que deve ser erigido e tem seiva bastante para nortear o cerne dos conceitos e das fórmulas, para a IV República, que há-de vir. É leitura obrigatória!

Pela nossa parte, não será preciso esperar por uma "edição esqucida nalgum alfarrabista, daqui a 30 anos", que já a temos. E agradecemos ao autor "O nosso Sá Carneiro".