sexta-feira, 26 de julho de 2013

Partidos - o fermento está na rua



A crise que o País e a III República atravessam, cujos expoentes máximos são a assistência financeira da Troika, o colapso iminente da coesão social, e o espectro do bloqueio jurídico-constitucional e político-partidário a que temos assistido, tudo isto está a mexer com as estruturas da sociedade portuguesa e os alicerces do regime.
 
Indo directamente ao assunto que aqui queremos tocar, é hoje evidente que os partidos políticos que temos não servem e que tanto a condução político-administrativa do Estado como as respostas para os novos problemas da nova realidade social não podem ser-lhes confiados por muito mais tempo.
 
Caso a presente Legislatura chegue ao fim, ou a comunidade nacional consegue alavancar um novo ânimo numa regeneração que é imperativa, ou estaremos perto do terceiro-mundo, que há muito pensávamos ter largado.
 
Há uns pares de anos, quando já existiam sinais fortíssimos da degenerescência a que os partidos chegaram, não havia praticamente ninguém que entendesse «haver espaço» para o aparecimento de novas forças políticas, especialmente na área denominada de centro-direita.
 
Hoje já não é assim. Começam a fazer-se ouvir sem tibiezas nos media várias vozes sonantes, (algumas, inclusive, de venerandos «senadores» da República), apontando para a necessidade urgente de uma reconfiguração formal e qualitativa do nosso leque partidário, assim como para a premência de uma clarificação do sistema de governo, entre outras alterações em matérias chave da democracia.
 
Mas aquilo que merece mais atenção é outro aspecto:
 
Os cidadãos despertaram para o problema e a sociedade civil, se bem que divorciada da actividade política, deixou de estar apartada de acompanhar a actualidade, sendo agora notório um grandíssimo descontentamento com os partidos. Basta vermos como é que o País entendeu a comunicação do Presidente da República, para que o PS, PSD e CDS se entendessem, e de que «lado» estava o «Portugal profundo».
 
Para apertar esta tenaz, notemos o seguinte:
 
De há muitos anos a esta parte, quando muda a cor política da governação, a ideia dominante é que não é a oposição que ganha as eleições mas sim o governo que as perde. Andamos nesta espiral rotativista há muito, e as pessoas não têm votado no PSD ou no PS por «convicção», mas para «tirar de lá» este ou aquele.
 
Ora, toda a gente sabe que o PSD ganhou as Legislativas em 2011, não por Passos Coelho e o a sua equipa constituírem uma opção deliberada, mas pelo facto do eleitorado ter querido, deliberadamente, «correr» com José Sócrates e o PS.
 
O problema é que em 2 anos o PSD e o CDS já desbarataram todo o capital que tinham e os portugueses não querem eleições apenas porque consideram António José Seguro pior. E é!
 
Donde, em 2015, se não for antes, a maioria do eleitorado, ainda que mudem as lideranças, vai ser confrontada com esta coisa, muito simples:
 
Não «vai dar» para acreditar mais no PSD/CDS, como não «vai dar» para acreditar mais no PS, de modo a que uns ou outros alcancem uma maioria para governar.
 
Sem contarmos aqui, propositadamente, com a saída de cena de Cavaco Silva, (e as fracturas que as Presidenciais de 2016 provavelmente abrirão), 40 anos sobre o 25 de Abril teremos reunidas condições para emergir uma nova força política em Portugal.
 
Passará «por cima» do PS, do PSD e do CDS, e irá buscar a sua força ao espaço sociológico da troika formada pelos partidos do «velho arco governativo». Esse fermento, uma vez na rua, não deverá deixar de crescer.