segunda-feira, 21 de março de 2011

É nuclear

Sempre defendi que não se deve fazer política "em cima" de calamidades. É do mais elementar bom-senso. Primeiro, tratam-se os vivos, enterram-se os mortos e ampara-se a comunidade. Depois, executa-se no imediato todas as acções que estejam ao alcance e possam minimizar ainda mais danos. De seguida, faz-se um primeiro balanço e determinam-se medidas de segurança, normalmente interdições preventivas.

No passado dia 10, o Mundo viu em directo, e a todos transtornou a imagem do "apocalipse" que atingiu o Japão sob a forma de terramoto, seguido de tsunami, e explosões na central nuclear de Fukushima-Daiichi que se sucederam. Também tem sido muito impressionante, no lado humano, a forma serena e a capacidade de discernimento  com que aquele Povo tem reagido. Não há palavras.

Agora, passados dez dias sobre a catástrofe, em primeiro rescaldo, uma coisa é certa; contra as forças da natureza pouco pode a força dos homens. Mas contra o alto risco da capacidade destrutiva das invenções dos humanas, os homens podem tudo. Tudo é então jogado no campo das opções.

Não terá sido por acaso que na Europa vários Governos actuaram de imediato, no que concerne à fiscalização dos níveis de segurança das centrais nucleares em actividade, tal como quanto aos procedimentos a adoptar relativamente a centrais inactivas ou cujo encerramento está aprazado.

Pergunta-se agora se os acontecimentos do Japão vieram "matar" a energia nuclear. Definitivamente, talvez não, tais são as insuficiências energéticas e os lobbies  pró-nuclear. Mas que estes acontecimentos vieram enfraquecer significativamente os movimentos favoráveis ao uso dessa tecnologia, não sobram dúvidas. É um debate que leva décadas e que nos países mais desenvolvidos costuma entrar na agenda política, sobretudo antes de serem eleitos novos Governos.

Em Portugal, que não tem reactores nucleares, várias vezes chegou a falar-se da necessidade desse debate, havendo quem defenda a solução energética "mais barata".

Vamos partir para eleições dentro de pouco tempo e o País, consumido que está com o "impasse político", a par da séria possibilidade de bancarrota, parece pouco desperto para este e outros temas prementes, como a bioética, por exemplo. Mas importantíssimo seria que o contrato a assinar com os portugueses, por parte de quem se propõe governar nos próximos anos não deixasse de fora estas e outras matérias, com total clareza.