domingo, 29 de abril de 2012

Desafina o Governo, o PS enrouquece


Portugal acabou de celebrar o 25 de Abril e prepara-se para o 1º de Maio. Este ano em particular as datas adquiriram significados especiais muito acrescidos, sobretudo por ser nos momentos mais difíceis que mais é sentida a necessidade de cada um ir às raízes das evocações, interpretando a realidade à luz da leitura que faz da História.

Vai daí, a redobrada atenção à Sessão que decorreu na Assembleia da República, ao que ali foi dito, às ausências, presenças, declarações laterais, e a todo o ambiente que rodeou o 38º aniversário da Revolução.

Com este 1º de Maio, também ele cimento do 25 de Abril de 74, não será diferente.

Entretanto, da «ruptura democrática», aventada na Sessão da Quarta-feira passada, pelo líder da Bancada do PS, Carlos Zorrinho, ao extremar da posição do Secretário-Geral do PS, António José Seguro, no Debate Quinzenal da última Sexta-feira, foi «um ai». Já antes, o compromisso da UGT na Concertação Social estivera «por um fio».   

Em última análise, em todos os casos estamos a falar de política externa. Aliás, presentemente, quase todos os «casos» reconduzem-nos à política externa, ou não estivéssemos sob o «garrote» da Troika e entregues ao «destino» da evolução da União Europeia no futuro próximo.

Este mês de Abril foi horribilis para o Governo, designadamente pela falta de jeito que revelou em conservar pontes com a Oposição e Parceiros Sociais, em especial no que diz respeito ao «consenso nacional» necessário para que possa apresentar-se junto das entidades externas como «fiel depositário» das posições portuguesas. Para mais, quando existe um contexto político em que isso, pelo menos visto de fora, é não só favorável como também inspirador de alguma confiança, por contraposição àquilo que se passa noutros estados-membros da UE.

Ora, quebrar esse «consenso» em matéria externa é um erro crasso, cujo preço poderá ser fatal.

Se nos momentos mais difíceis, logo após o 25 de Abril, Portugal conseguiu alcançar consensos para convencer a Europa e o Mundo de que seria instituído um regime democrático do «tipo ocidental», se fomos capazes de congregar esforços no pedido de adesão à CEE, se ratificamos o Tratado de Maastricht, se a entrada na moeda única foi concertada, e se o pedido de ajuda foi selado com um Memorando de Entendimento, ninguém percebe que, agora, em plena passagem pelo «Cabo das Tormentas», se rompa um mínimo denominador comum entre Governo, Oposição e Parceiros Sociais. 

Aqui, a responsabilidade primeira é do Governo, que não pode «envergonhar-se» de levar a Bruxelas as questões suscitadas pelo PS e pela UGT, entre outros.
É que o Governo não é delegado dos delegados da Comissão Europeia, mas antes o corpo e a voz da legitimidade das entidades políticas de Portugal.

Adiante:
Por falar em «voz», Pedro Passos Coelho, há cerca de um mês, no Congresso do PSD, decidiu afinar o Partido, procedendo a alterações que visavam destrinçar o plano partidário da acção governativa. Fez bem.

Mas esqueceu-se de uma coisa: é que se agora o PSD está mais autónomo do Governo, o Executivo parece cada vez mais dependente do Primeiro-Ministro, tais são as dificuldades de comunicação dos Ministros e a falta de articulação revelada entre membros do Governo.

Está na altura do Primeiro-Ministro, em vez de «mandar falar», «mandar calar», optando por designar um porta-voz para o Governo. 

Evitaria uma exposição do PM a toda a hora. E também evitaria a balbúrdia, a instabilidade, e a especulação que algumas asneiras têm custado. 

Isto, pois quanto mais desafina o Governo, mais o PS enrouquece.