quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Portugal aquilo que é português


A difícil encruzilhada que Portugal atravessa perpassou nas intervenções proferidas neste 38º aniversário do 25 de Abril.

Consoante o quadrante das diversas forças políticas e outras, com expressos ou subtis gestos de contrição por aquilo em que desembocou a III República, manifestas ou tímidas notas de (des)esperança no virar da página da História, mais ou menos apontamentos de vitalidade ou estafa orgânica, maior ou menor sentido de compromisso em nome do Estado, a pauta comum foi de diagnóstico da situação presente.

Em geral, dentro dos limites do razoável, cada qual «puxou» pelas suas bandeiras e motes, sendo certo que para além do tempo e do modo de um iminente plano de renegociação do Plano de Ajuda Externa, a ideia que temos é que quase todos sabem o que não querem, mas quase todos já têm mais dificuldade em alinhavar aquilo em que estão apostados para jusante das neblinas conjunturais. Aqui e ali existem ideias avulsas, começa a formar-se um discurso consensual relativamente ao mar, à lusofonia e à nossa vocação atlântica, e parece notório que a grande discussão dos próximos tempos será a da sustentabilidade da Segurança Social e do papel do Estado em áreas fundamentais, como Saúde e Educação.

E quanto à produção de riqueza?
Vamos passar a viver de quê, esgotadas as «velhas» fontes de financiamento? 
Aqui, ao nível do diagnóstico, olhando para as vicissitudes do nosso processo de integração europeia, já todos acham que deixámos destruir o nosso tecido produtivo, a começar pela agricultura e pescas, tendo-nos deixado tornar dependentes em demasia de serviços e turismo.

Era bom que tivéssemos agora, em plena execução do Programa da Troika, a capacidade de antevisão suficiente para não nos deixarmos levar em “cantigas” de que mais tarde nos iremos arrepender. Há pontos do Memorando que devem ser revistos, obrigatoriamente. 

A consolidação orçamental não pode fazer-se “a pataco” nem como um fim em si mesmo. É um passo para a nossa “viabilidade” que nos obriga no imediato a sacrifícios tributários e reformas estruturais, é certo. Mas nunca, por nunca, poderá constituir o fim do nosso curso Histórico. Jamais poderemos abrir mão de certos sectores estratégicos nacionais, sob pena de hipotecarmos a independência nacional. 

Como é que vamos prosseguir amanhã, se hoje permitirmos que nos levem as “jóias da coroa”? Os exemplos mais gritantes prendem-se com os nossos recursos naturais. Mas há outros casos preocupantes “empacotados” no plano das privatizações. 

A TAP, por exemplo. Tem muitos interessados na sua compra? Ainda bem. Os apetites pela nossa transportadora aérea e pelas as rotas que somos capazes de abrir no mundo significam, simplesmente, que seremos tão mais independentes amanhã quanto mais forte a capacidade que tivermos de não abrirmos mão de património tão valioso hoje.