quarta-feira, 11 de abril de 2012

Prata da casa


Se o desporto é uma grande escola, o futebol profissional é um «verdadeiro MBA». 

Vem isto a propósito dos principais clubes portugueses, especialmente aqueles que lutam por títulos, «reflexão» muito proporcionada agora pelo «fenómeno Ricardo Sá Pinto» e pela recente vitória do Sporting sobre o Benfica, por 1-0, em derby da máxima importância para as contas finais do Campeonato.

É compreensível que sejam os benfiquistas quem mais se interrogue e questione, na justa medida em que o SLB é o clube de maior dimensão, história e palmarés, para além de que nos últimos anos, tal como na presente época, os resultados têm ficado aquém das expectativas criadas em torno da equipa.

Se os «objectivos» dependessem directamente do orçamento, tanto do lado das receitas, tais como prémios das provas, sponsors, direitos televisivos, bilheteira e merchandising, por um lado, e das despesas, tais como salários do plantel e da equipa técnica, valor das novas contratações, custo da manutenção das infra-estruturas e da máquina administrativa, por outro, isto, para não falarmos naquilo que a «marca Benfica» tem de incomensuravelmente infungível, arriscaríamos dizer que este clube, pelo menos nas competições nacionais em que participa, só por razões muito excepcionais e imponderáveis é que não estaria obrigado a vencer.

Então, se não vence, será que as tais «razões muito excepcionais e imponderáveis», afinal, não são assim tão fortuitas como isso, e a explicação está no «azar», nas arbitragens e nas lesões?
Pensamos que essa explicação, no «cômputo geral», não pode proceder, que é infundada.

Há dias, ouvíamos um respeitado comentador desportivo dizer sobre o treinador do Sporting que o maior problema de Sá Pinto quando pegou no SCP era o próprio Sá Pinto, e que este, caso potenciasse aquilo que tem de melhor, como vem fazendo, e conseguisse refrear aquilo que tem de menos bom, como vem conseguindo, tinha todas as condições para continuar na próxima época como treinador principal.

E que dizer de Vítor Pereira e da equipa do Futebol Clube do Porto, ou de Leonardo Jardim e da equipa do Sporting de Braga? Embora sejam casos diferentes, provavelmente, a haver «segredo», a fórmula não será muito diferente daquela que nos é apresentada de modo mais notório pelo «Coração de Leão».

Aqui chegados, temos a resposta para a desilusão com o Benfica. O maior problema da equipa encarnada é o próprio Benfica, não discriminando os jogadores que integram o plantel da equipa técnica. O SLB não tem conseguido levar ao máximo as suas qualidades e reduzir ao mínimo as suas fragilidades.

Se a «falha» não parece que possa ser imputada a problemas de ordem financeira (no contexto nacional e quando comparado com os adversários mais directos) nem aos imponderáveis do futebol (más arbitragens, lesões e bolas na trave «tocam a todos») então a que se deve a «falha»?

A nosso ver, o problema passa por algo mais simples e mais fundo, por estranho que possa afigurar-se.

Ao Benfica, equipa com óptimos jogadores, falta «colectivo», falta «identidade dos atletas com o emblema», falta estabilidade no «onze», falta construir a tal «mística», falta «alma». O que sobeja em «milhões» falta nestes aspectos, que não há dinheiro que pague nem vedeta que garanta.

Lembremo-nos, por exemplo, da célebre «equipa viking» da Dinamarca, que depois de ter sido repescada, ganhou o Europeu de 1992.

O Benfica, à moda do Benfica, tem de «comer a relva», como o Porto, tem de «sacudir a pressão», como o Braga, e tem de «ser guerreiro», como o Sporting. Ao fazer isso, o Benfica corrigirá os seus pontos mais fracos. Superadas esses aspectos, onde tem sido mais frágil, no mais, que é muito mais, o Benfica será sempre superior porque a sua ordem de grandeza é maior.

Fazer singrar essa superioridade e essa grandeza, ao invés do que alguns julgarão, não passa por fazer da Luz um «albergue espanhol», uma «galeria de notáveis», uma «feira de vaidades» ou uma pequena «Wall Street».

Antes pelo contrário:

O cimento que liga a equipa tem de brotar de dentro, tem de ser fruto de «colheita própria».
É preciso apostar na «prata da casa». 
O sucesso dos clubes, como das empresas e dos países, passa, cada vez mais, por aqui.
Os «nossos» são tão bons como os melhores dos «outros».
Andamos a esquecer isto demasiadas vezes.