quarta-feira, 13 de abril de 2011

Att: Dr. Paulo Portas


Ainda que em excepcionalíssima crise, autêntico «estado de necessidade», não curamos aqui de saber se o óptimo é inimigo do bom, da arte do possível, ou sequer dos apelos para que os três partidos do chamado arco da governação integrem o próximo governo.

Importa-nos antes, no meio da balbúrdia instalada, ver mais longe, antecipando a desconfiguração do actual quadro político-partidário, no rescaldo previsível das eleições e da próxima legislatura.

Tudo aponta para que a receita da «Troika» visitante vá ser aviada pelo PS e pelo PSD, afigurando-se-nos cada vez mais provável um governo fundado no Bloco Central.

Tanto assim é que Pedro Passos Coelho, após ter recusado uma coligação pré-eleitoral com o CDS/PP, e depois de ter sonhado chegar "ao pote" com maioria absoluta, já tudo isso deixou cair. Agora, deixa entreaberta a possibilidade de ir para o governo com o Partido Socialista.

Ora, caso as entidades externas aceitem que o aval à proposta seja assinado pelo Governo em funções mais os dois maiores partidos e com a chancela do Presidente da República, o CDS/PP de Paulo Portas, a quem se augura um bom resultado a 05 de Junho, devia saber ceder à tentação, e optar pela estratégia em vez da táctica.


É certo que Paulo Portas, há dias, em Viseu, prometeu aos seus levá-los à "terra prometida".
Já falta pouco, disse.
É também certo que Portas, como os outros "chefes", só anima os soldados e enche as salas dos circuitos da "carne-assada", caso transmita convincentemente o perfume do poder, ao alcance de mais uns esforços. O que a "malta" quer ouvir é que o "assalto" está para breve, com direito a "saque e pilhagem".


Todavia, nesta vertigem, Paulo Portas devia dizer Não a um presente envenenado.

Vejamos:

Portugal, exaurido, e os portugueses, fartos que estão do PS e do PSD (que acham ser a cara e o verso da mesma moeda) tanto, tanto, ao ponto de se dividirem equivalentemente e com espantosa indiferença entre estes dois, mais fartos vão ficar quando os virem juntos no governo, ainda que saibam que solução é "imposta".

Por outro lado, a ironia do destino é irmos ver o PS e o PSD, principais culpados pelo falhanço da III República, serem agora obrigados a arcar com as responsabilidades de medidas duríssimas, bebendo o cálice do fel até ao fim.

Desta vez, muito dificilmente poderão recompor-se, ao contrário do que aconteceu após 1983/85.

Caso o CDS/PP integre o governo, "a rua" ficará exclusivamente à mercê do BE  da CDU, que entretanto, já alinhavam uma frente oposicionista de esquerda, tendo de facto campo aberto para germinar.

E à direita do Bloco Central, pergunta-se?
Quem assumirá a alternativa democrática à "União Nacional", tipo PRI mexicano, que se cozinha?


O próximo governo, institucionalmente falando, será formado para defender os «superiores interesses nacionais».
Na prática, o que vai acontecer, é o PS e PSD sob a capa das entidades externas julgarem que se salvam por ter correspondido aos apelos heroicamente e estado juntos nos tais «inestimáveis serviços ao País».

Politicamente (sendo a política, na essência, que aqui interessa), este PS e este PSD coligados não passarão de capatazes dos nossos credores, cujos "serviços", diga-se, merecem ser incumbidos, quais coveiros de si próprios.

Nisto, natural será que do lado do PS a ala republicana, laica e socialista decida mexer-se e, pela banda do PSD, a ala popular-democrática faça as rupturas há muito latentes.

Depauperado o Estado, sem erário público para esbanjar, a austeridade que aí vem terá, ao menos, o condão de clarificar o xadrez político, desparasitar as instituições e devolver a palavra à política, criando-se condições para edificar a IV República. 

Paulo Portas (e outros, dentro ou fora de partidos, afastados ou no activo), ou vê isto com nitidez, e opta por uma aliança com os portugueses em vez de entrar num "saco de gatos", ou será soterrado nos escombros de um Regime desfeito. De onde não haverá resgate possível, porque o tempo não perdoará.