quinta-feira, 14 de abril de 2011

Chazada grossa


Fala-se muito do teor das declarações dos políticos, cada vez mais ocos e ditados pelas exigências da imagem. Paradoxalmente, pouco se diz acerca dos locais onde o que é dito fica registado.

É curioso observar como há maus hábitos que perduram, e como as equipas de marketing não notam isso.
Uma mera frase, proferida no momento errado ou no lugar impróprio, alcança proporções muito nefastas.

Sempre me fez confusão, por exemplo, aquela coisa dos encerramentos dos congressos. 

Convida-se tudo e todos.
Desde o Presidente da República, que costuma fazer-se representar, ao Corpo Diplomático.
Desde os partidos adversários aos parceiros sociais, e por aí fora.

Logo à entrada, acontece convidados serem recebidos com apupos, vaias e pateadas.
Depois, nos discursos, aquilo mais parece uma sessão de masoquismo para os visitantes, que da bancada que lhes é reservada ouvem dizer de si o que Maomé não disse do toucinho.

No fim, enquanto no palco onde os líderes são incensados entre apertos e abraços, sons apoteóticos, balões a rebentar, chuva de luzes e papelinhos mais bandeiras que se agitam, assistimos, a escassos metros dali, aos "bombos da festa" dizerem "porcas e piolhosas" à comunicação social.

Das duas uma:
Ou os anfitriões deveriam deixar de convidar, reservando para outra ocasião o encontro com os seus interlocutores, ou os convidados deveriam ter a decência de escusar reagir em casa alheia, reservando o que se lhes oferecesse para mais tarde, noutro local.       
       

Ao nível dos encontros oficiais e de Estado, a história é semelhante:

Vemos a certa hora, por exemplo na Residência Oficial de São Bento, uma reunião do Primeiro-Ministro com o líder do maior partido da oposição.
Três minutos para as fotos da praxe.
Fecham-se a porta que os assuntos são muitíssimo sérios.
Após 45 minutos de conversa alguém diz, "vão sair".
Os jornalistas apontam baterias, concertam-se as gravatas (quando calha), e eis que na salinha do lado ou no corredor o "chefe da delegação", com ou sem acólitos ao lado, muda de registo e diz o que quer e bem lhe apetece. Isto, nas costas do PM, que por vezes ainda mal acabou de subir as escadas.

Não teria sido muito mais elegante, tomando o recente exemplo dos "esqueletos e dos "gatos" de Pedro Passos Coelho, que o líder do PSD, eventual próximo Primeiro-Ministro, tivesse à saída dito aos jornalistas que as declarações seriam prestadas, não ali, mas na Assembleia da República?

A recuperação da credibilidade dos nossos políticos, aos olhos dos portugueses, também passa muito por estes gestos. 

Todavia, há um ponto a reter: quando a iniciativa não parte da capacidade dos próprios para intuírem a dose certa em cada momento, as equipas de comunicação e imagem vão ter que passar a tomar chá, sob pena daqueles a quem prestam assessoria, depois, levarem "chazada grossa".