quinta-feira, 8 de março de 2012

Ir parar ao Gaspar

O povo português, apesar de não ser dos mais informados, é muito sábio.
Relaciona os factos históricos com o saber das experiências feitas, e intui sobre as páginas do seu quotidiano com a argúcia própria do seu caldo de culturas.   

Caso um extraterrestre aterrasse no nosso território, à procura de uma explicação para a encruzilhada portuguesa, melhor que dirigir-se a políticos, jornalistas ou comentadores, seria dirigir-se ao «cidadão comum», que obteria resposta rápida. 

Ouviria mais ou menos isto:

Sôr ET, sabe o que se está a passar na Grécia, não sabe?

Pois então... os gregos estavam aflitos, com muitas contas para pagar. Como não podiam pagar, nem as dívidas nem o leitinho para levar para casa, começaram todos à pancada. Os países mais ricos da CEE ou a UE, ou como é que se diz, primeiro não fizeram caso. Mas depois, quando perceberam que se eles nunca mais pagassem as dívidas, o problema ia cair-lhes em cima, decidiram então emprestar-lhes o dinheiro, e foram lá uns senhores, para saber quanto é que era preciso com juros e tudo.
Olhe, a coisa foi andando, mas o dinheiro foi-se sumindo, e aquilo está que é a desgraça que se vê. Esses senhores já voltaram lá várias vezes, e agora dizem que os gregos aldrabam tudo e querem é viver à conta.

Cá em Portugal não foi bem assim. É verdade. 

O Eng.º Sócrates, e os outros antes dele, foi um tal fazer buracos. Gastaram tudo o que tinham e que não tinham, que até metia pena ver a agonia do Ministro das Finanças, aquele do cabelo branco, que chegou a um ponto que já não tinha para pagar os ordenados e as reformas. Sim, senhor, é verdade. Então, à última hora, mesmo à rasca, o PS mais o PSD e mais o CDS, fizeram um acordo com a essa coisa da Troika. 

Se eles enviassem o dinheiro, a gente fazia tudo o que eles dissessem. E assim foi. O Senhor Presidente da República também disse que sim, mas que não assinava, que os Partidos que fossem.

O problema é que agora, aquele rapaz novo que está no lugar do Sócrates diz que quer fazer tudo certinho, para não nos chamarem aldrabões, como aos gregos. E é só cortes e cortes e mais cortes. Ele é muito amigo daquela que manda, da patroa, a da Alemanha. Ele sabe que a gente nunca mais pode pagar aqueles milhões todos. Mas diz que vamos aguentar até ao fim, custe o que custar.

E sabe porquê, Sôr ET?

É para eles não poderem dizer que a culpa foi nossa. Isto está a sair-nos do couro e há muita gente a passar mal. Mas se os gregos são espertos, nós ainda somos mais que eles. Quando chegar ao fim do ano, aqueles da Troika, aí é que vão ver. Pois se a gente fez tudo como nos mandaram! Com que cara é que eles vão ficar? Ou enviam mais dinheiro outra vez, ou então arranjam lá outra maneira de desenrascar, que isto assim não dá para aguentar mais. É que se nos apertam muito que vão mandar mas é lá para a terra deles. E para o Governo, se não houver outro, fica mesmo aquele, o Gaspar, que parece todo mansinho mas para meter os dos partidos na ordem, dizem que não há igual.