terça-feira, 18 de maio de 2010

Cavaco total


Durante anos pensou-se que a «espinha» do Prof. Cavaco Silva era outra. Quando Pimeiro-Ministro, o «homem do leme», o tal que «nunca se enganava e raramente tinha dúvidas» era uma referência de lealdade, rectidão, rigor e probidade. Um homem de palavra, em quem se podia confiar. Foi essa a imagem que dele ficou e foi essa imagem que o levou a Belém.

Entretanto, passaram alguns anos, muita água correu debaixo das pontes, mas o perfil consagrado de Chefe do Executivo, que governou em determinada conjuntura, não tinha de ser, forçosamente, o perfil mais adequado para vir desempenhar a mais Alta Magistratura do País.

A crise, a degradação das instituições políticas, o PEC, as medidas extraordinárias impostas por Bruxelas ou o fantasma da bancarrota não justificam tudo. Ou seja, no entender do Presidente da República impõe-se o maior dos recatos, quando não o mais prudente dos silêncios. É assim, está visto, que o PR acha que contribui para não atear mais a fogueira nacional, por um lado, preservando-se enquanto última reserva moral da nação, por outro. Tanto assim é que a fome, o desemprego, a insegurança, o pandemónio da Educação e Justiça, ou o novo pacote fiscal, por exemplo, têm sido matérias que mais não têm merecido do PR que um tímido balbuciar de palavras, medidas ao milímetro. Declaração ao País?! Nunca! Isso seria desestabilizar ainda mais o Estado Português, preso por arames.

Pois bem... então, Cavaco Silva dedica-se a fazer, uma vez por outra, uma declaração ao País, sobre temas, tais como - o Estatuto dos Açores, o caso Fernando Lima e outros temas "relevantes".
Hoje foi para explicar que não concorda com o casamento entre pessoas do mesmo sexo mas não é ele que faz as leis e manda a "ética da responsabilidade", sobretudo em tempos de P(R)EC, que Portugal não se desgaste mais, pelo que promulga a Lei. 

Ora, Cavaco veio dizer o óbvio. Se veio dizer o óbvio, por que é que fez uma declaração solene? Por que é que não promulgou a Lei e se manteve calado, como tem sido seu hábito? Terá sido para pedir desculpa à Igreja Católica, precisamente na semana seguinte à visita do Papa a Portugal? Ou terá sido para compensar os sectores mais liberais nos costumes, tradicionalmente de esquerda, que não acharam graça nenhuma às vénias e cortesias que o Chefe do Estado dispensou a Bento XVI?

E isto, que se sublinhe, estamos a falar da forma... é que se fossemos ao conteúdo, depois da declaração de hoje, Cavaco Silva ainda teria ficado pior "na fotografia". Ao pé da declaração presidencial de hoje, o Perdoa-me de Passos Coelho, no outro dia, é "manteiga de amendoim".

Pobre País, onde o PR supera, para pior, o líder da oposição, e onde o mesmo PR, ainda não tendo assumido a recandiatura, e longe do período de campanha eleitoral (cujas eleições, todos dizem, estão ganhas à partida) já se presta a ser comparado a Fernando Nobre... é de tudo. E não é de nada!   

1 comentário:

JAJ disse...

Excelente artigo.
Não foi para isto que votaram em Cavaco Slva.

"(...) Por outras palavras, presidente preferiu a salvação da cidade, ao que especulou sobre a salvação de sua alma, ainda a semana passada benzida e genuflectida.(...)

Sobre a coisa promulgada, a minha alma diz que a matéria do casamento de homossexuais dever ser mesmo casamento de homossexuais com outro nome e não este exercício de abstracção e generalidade, bem construtivistas, ao meter num contrato o que, de acordo com o direito romano, bem antes do direito canónico, deveria ser uma instituição. Continuo a preferir soluções à inglesa, à sueca e à francesa!"

José Adelino Maltez

Viva o Rei!
O Rei é livre e livre será o povo.