domingo, 23 de maio de 2010

Pedro Santana Lopes


Acabei de ver há pouco, através do site na internet, a entrevista que Pedro Santana Lopes concedeu anteontem a Ana Lourenço, na SIC/Notícias. Pois que se levante o primeiro para dizer que PSL está proscrito. Pedro Santana Lopes, em pouco mais de um quarto de hora, revelou ali, pleno de clareza, conhecimento, responsabilidade, elevação e equidistância, quão importante é o seu pensamento para País. Mais agora que noutra fase qualquer, ignorá-lo seria malbaratar um capital político enorme.

Durante anos a fio, décadas, PSL foi acusado de imaturo, inconstante, inconsistente, temperamental, populista ou "fiteiro". Casos houve em que, como veio reconhecer, de facto "pôs-se a jeito". Foi essa a pior das imagens que se lhe colou. Nem todos têm famas tão lights… mas foi com essa fama que teve de conviver, especialmente quando esteve incumbido das mais altas funções que desempenhou, ou sempre que se colocou a hipótese de liderar qualquer coisa.

O "Sistema instalado", aqueles que mais poderes fácticos têm (desde aparelhos partidários a detentores de posições nevrálgicas dentro e fora do Estado, desde académicos a patrões, desde comentadores a articulistas e desde iluminados a usufrutuários de apelidos brasonados) nunca gostou dele, e só uma vez ou outra, a título muito excepcional, por legítimo interesse, mera cortesia ou oportuna instrumentalização, foi capaz de reconhecer a PSL, não o seu talento político - que isso é fácil - mas que se trata de alguém genuinamente entregue à Política, ao Interesse Público, à Pátria, à defesa dos Direitos Fundamentais, e à Liberdade, que tanto ama.

A razão primeira, simples, é esta:
PSL, a partir do dia em que pôs um pé dentro das "corporações do Sistema", passou a constituir um perigo para aqueles que gostam de "mudar só suficiente para que tudo fique na mesma". A ruptura, fio condutor da sua actuação, foi quase sempre pressentida pelos glutões, como uma espécie de "fervor social revolucionário", pouco amiga de "soluções de compromisso", que a todos contemplam e a alguns muito abonam, especialmente os mais algozes. Na verdade, por entre as turbulências de uma vida pública intensa, as vitórias e as derrotas mais marcantes, teve-as, quando rompeu. Quando mais afeito a rotundas espirais, pouco mais colheu que dissabores e mordaças, com que não sabe conviver, porquanto a sua propensão não tem a ver com gaiolas douradas ou sacrifícios pagos a soldo pesado.

Os anos passam depressa. Estamos em 2010, cumpriu-se uma Legislatura, correram 5 anos sobre 2005. Já vamos no XVIII Governo. PSL, depois de um período na liderança da Bancada do PSD na Assembleia da República, é um político fora do activo. Exerce advocacia e dá aulas, para além do lugar de Vereador da oposição na Câmara Municipal de Lisboa, que ocupa.

Será que, passados estes anos, alguém intelectualmente honesto, (em particular do espaço sociológico que se costuma designar como de Centro/Direita), olhando para a balbúrdia em que o País se encontra, analisando o frenesim da actuação da nossa classe dirigente, e ouvindo a parafernália de opiniões, desorientações e partes gagas de quem tem vindo a público opinar sobre o que deve ser feito, pode, em consciência, adjectivar o caminho proposto por PSL como insensato, revanchista, imaturo ou lírico? Fica a pergunta!

O mundo dá muitas voltas… a ironia do destino é que, agora, com todos os alertas a dar sinal constante, em situação da mais grave emergência do pós-25 de Abril, à beira da bancarrota, da implosão institucional e da explosão social, todos começam a clamar por rupturas… todavia, na realidade em que vivemos, a ruptura, que se impõe, não passa por deitar governos abaixo e empossar outros, "nados-mortos". Não passa pela adopção de medidas gravosas, mas quando comparadas com aquelas que são efectivamente necessárias, pouco mais constituem que "operações de cosmética". Não passa por mudar o titular deste ou daquele órgão de soberania, sem a reestruturação de todo o edifício constitucional. Não passa por exclusões ou sectarismos. Em casa onde não há pão…

Curiosamente, note-se, num tempo em que toda a gente está farta desta classe política. Num tempo em que toda a gente assiste atónita a trapalhadas sobre trapalhadas, vindas de todos os lados. Num tempo em que toda a gente olha à volta e vê falta de coragem e ausência de iniciativa, para promover uma conversa a sério com o País, curiosamente, dizíamos, eis que "o rejeitado", sem "armar-se", vem apresentar os traços gerais de uma ideia/plano, a pensar num único interesse, muito mais próprio de um estadista que de um vulgar político – constituir um Governo de Salvação Nacional, para evitar que Portugal perca a sua soberania e, uma vez atingido esse objectivo primeiro, (só alcançável se os partidos e as confederações patronais e sindicais romperem com os sectarismos em que estão submersos), partir-se para a refundação do Sistema, o que, no fundo, resume-se em duas palavras – Mudar de Vida. A reclamada inauguração da IV República não anda longe disto.

Pedro Santana Lopes em Junho próximo contará 54 anos. Atravessa aquela a que alguns chamam "a fase do planalto". Quando força e sabedoria melhor se conjugam. Força e sabedoria. Não há margem para tirocínios ou experiências recauchutadas. É preciso rasgo, por um lado. E cautelas, por outro. É ainda necessário saber ouvir e ter determinação para optar, solitária e convictamente.

PSL, ao contrário do que ele próprio poderá achar, (costuma dizer que é no executivos autárquicos onde mais realizado se sentiu), é um corredor solitário, uma ave fora do bando. O seu perfil, um pouco à imagem de Mário Soares, enquadrar-se-á com mais propriedade num lugar unipessoal. Neste momento, por razões privadas e profissionais, e levando em conta tudo aquilo a que teria de sujeitar-se, talvez a ideia lhe cause muitas reservas. Seja como for, a entrevista de ontem foi "um clique". Como quem acende uma luz. Se houvesse alguma lógica na política portuguesa, Pedro Santana Lopes, (tão ou mais preparado que qualquer outro, tão ou mais suprapartidário que qualquer outro, tão ou mais patriota que qualquer outro, mas com referências ideológicas, pensamento estratégico, espírito crítico e capacidade de gerar empatia com as populações superiores aos demais), seria, por natureza, candidato presidencial, já nas eleições do próximo ano.

Vale o que vale a opinião de um cidadão, que diz, escreve e assume - caso PSL fosse candidato presidencial, desta vez usaria caneta… e o voto era confiado a Pedro Santana Lopes.


PS:
Creio da mais elementar rectidão dar nota que fui apoiante empenhado e modesto colaborador de Pedro Santana Lopes, na intensa actividade político-partidária que PSL desenvolveu entre 1995 e 2005, tendo, entretanto, integrado os seus Gabinetes, na Câmara Municipal de Lisboa e em São Bento, como adjunto, em funções que embora discretas muito me honro. A partir de 2006, raras foram as circunstanciadas vezes em que me cruzei com PSL, com quem não mantenho contacto desde estão. Nenhum dos factos referidos impede a independência que se requer, ou turva o discernimento que se recomenda, especialmente por se tratar de um elogio.

4 comentários:

Inez Dentinho disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
José Castro disse...

Caro Ricardo Alves Gomes,

COncordo com tudo o que escreveu e ainda hoje de manhã tive o prazer de ouvir no RCP um dos directores da revista Sábado afirmar que, um dia quando a história for escrita, Pedro Santana Lopes será visto de outra forma. Perante tanta falta de respeito pelos cidadãos como os governos de José Sócrates tem mostrado, mais concretamente nestes últimos dias, já não é honesto da parte seja de que quadrante político for, afirmar que o governo de PSL era o governo das trapalhadas. Mas q trapalhadas? Alguns pontos de desntendimento mas nada de tão grave como esta indescritivel comunicação e imposição ao País de novos impostos (ora Julho, ora, Junho, ora Maio, ora 1 ano e meio, ora 3 anos ou mais, etc.). Eu nunca votei PSD, mas PSL é uma pessoa que eu admiro. E sempre disse aos meus amigos e familiares que um dia Sócrates havia de sair pela porta mais pequena que PSL saiu e mais enxovalhado que PSL. Afinal para mim Sòcrates não passou de um oportunista que só foi para onde foi com a ajudinha do querido Presidente Sampaio que perante a terrível situação do País encontra-se calado. E Sócrates foi também levado ao colo por Cavaco e muitos PSD's que já andam a passar o seu calvário, mas penso que ainda não foi o suficiente. O que se fez a PSL não se faz. E espero sinceramente não ter um dia de ter que ter mais um cinico como primeiro ministro como é o actual lider do PSD. Mas penso que o q ricardo refere e bem verdade, Sócrates é que está a cosê-lo em lume brandinho e ele ainda não percebeu.
O polvo está aí e para ficar! Até quando????

JAJ disse...

temos candidato a presidente?

César João disse...

Sem dúvida alguma um grande estadista!