quarta-feira, 21 de abril de 2010

FW: Solidariedade para tótós... (Toda a carta merece resposta).

Todos os dias recebemos mails sobre isto e aquilo. Desde o dia mundial do periquito, passando pela última anedota sobre o FCP, até ao problema vital da escassez de água no Planeta...

Uns, simplesmente ignoramos. Outros, ficam a aguardar oportunidade (por mim, revelo, tal como em cima da secretária tenho um separador que diz "Pendentes", também tenho uma pasta na conta de email com essa classificação). Depois, há aqueles que, por qualquer motivo, são os eleitos do nosso critério cada vez mais apressado e menos espaçado e merecem resposta mais lesta.

Cartas verdadeiras, em papel, pouco mais restam que as das contas para pagar e a essas normalmente não respondemos, a não ser quando tiramos tempo e arranjamos paciência para reclamar, aproveitando o momento para "a tal desforra há muito prometida", embora cientes que se lograrmos obter mais que uma resposta "da chapa", então se nos for favorável, será um feito!

Aprendemos em pequenos que, "toda a carta merece resposta". Pois bem. Hoje, um mail que circula na net (abaixo reproduzido) e que veio parar à minha caixa de correio prendeu um minuto da minha atenção. Achei que antes de cumprir o Forward solicitado, remetendo-o para um endereço de alguém rezingão, mais ou menos ao calhas, devia responder, tal como mandam as regras antigas, partilhando a resposta oferecida, que convida a que outros lhe acrescentem, combinando assim tradição com modernidade. E por falar nesta, ocorre perguntar - será isto uma "interacção proactiva"? É que "interacção" ainda vai que não vai... agora, "proactivo" nunca cheguei a perceber bem o que é!!! 
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From: xxx@netcabo.pt
To: yyy@netcabo.pt
Subject: FW: Solidariedade para TÓTÓS (....que somos todo snós)
Date: Tue, 20 Apr 2010 13:47:57 +0100

Parti do princípio de que estas “contas” estarão correctas.
Se assim for, será importante enviar este “aviso” para os nossos amigos, e outros contactos.

Cumprimentos,
Maria

MAIL:
EM PORTUGAL ATÉ A SOLIDARIEDADE DOS PORTUGUESES SERVE PARA FAZER NEGOCIATAS...

A campanha a favor das vítimas do temporal na Madeira através de chamadas telefónicas é um insulto à boa-fé da gente generosa e um assalto à mão-armada.

Pelas televisões a promoção reza assim: Preço da chamada 0,60 € + IVA.
São 0,72 € no total. O que por má-fé não se diz é que o donativo que deverá chegar (?) ao beneficiário madeirense é de apenas 0,50 €.

Assim oferecemos 0,50 € a quem carece, mas cobram-nos 0,72 € , mais 0,22 € ou seja 30 %. Quem fica com esta diferença?

1º - a PT com 0,10 € (17 %) isto é a diferença dos 60 para os 50.
2º - o Estado 0,12 € (20 %) referente ao IVA sobre 0,60.

Numa campanha de solidariedade, a aplicação de uma margem de lucro pela PT e da incidência do IVA pelo Estado são o retrato da baixa moral a que tudo isto chegou.

A RTP anunciou com imensa satisfação que o montante doado já atingiu os 2.000.000 de euros. Esqueceu-se de dizer que os generosos pagaram mais 44 % ou seja mais 880.000 euros divididos entre a PT (400.000 € para a ajuda dos salários dos administradores) e o Estado (480.000 € para ajuda ao reequilíbrio das contas públicas e aos trafulhas que por lá andam).

A PT cobra comissão de quase 20 % num acto de solidariedade!!!
O Estado faz incidir IVA sobre um produto da mais pura generosidade!!!
ISTO É UMA TOTAL FALTA DE VERGONHA!!!
ISTO É UM ASQUEROSO ESBULHO À BOLSA E AO ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE DO POVO PORTUGUÊS!!!

Já agora, vale a pena pensar nas recolhas de alimentos para o Banco Alimentar Contra a Fome feitas nos hipermercados. É uma bela forma de os supermercados venderem mais... e nem em cêntimo dão às instituições que lhes aumentaram as vendas...
Tudo é pago, contemplando o lucro dos ditos e, claro está, os impostos ao consumo...
E o notável negócio das empresas da SONAE com o arredondamento para cima das facturas?

É UMA PIPA DE MASSA QUE ENTRA NOS COFRES DA SONAE!!! QUANTO RENDE? QUEM CONTROLA?

E O BELMIRO, DEPOIS (SABE-SE LÁ QUANDO), AINDA FAZ UM NÚMERO MEDIÁTICO A ENTREGAR PARTE DO QUE OS PORTUGUESES, DE BOA FÉ, ARREDONDARAM... (pagaram impostos e rechearam a tesouraria das empresas)... E, EIS A CEREJA EM CIMA DO BOLO: AINDA SE DESCONTA NOS IMPOSTOS DAS VÁRIAS EMPRESAS DA SONAE... POIS CONTABILISTICAMENTE O DINHEIRO GERADO COM OS ARREDONDAMENTOS DOS CLIENTES É ENTREGUE COMO DONATIVO...

E O POVO PAGA!

MISERAVELMENTE ESTA GENTE (?)ATÉ DA SOLIDARIEDADE FAZ NEGÓCIO!!!
TUDO LHES SERVE PARA ASSEGURAREM OS SEUS MULTIMILIONÁRIOS ORDENADOS E PRÉMIOS!!!

NÃO COLABORE NESTAS CAMPANHAS, CASO NÃO SEJA ESCLARECIDO CABALMENTE QUE OS "DONATIVOS"  ESTÃO ISENTOS DE IMPOSTOS E DE TAXAS OU COMISSÕES, BEM COMO NÃO CONTRIBUEM (SEM RETORNO SOLIDÁRIO) PARA O AUMENTO DOS NEGÓCIOS DOS GANANCIOSOS GESTORES...

NÃO SEJA TÓTÓ!!! E DENUNCIE!

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RESPOSTA/FW:
NEM TODOS... AINDA HÁ PORTUGUESES!‏

Também não sei se as contas estão certas... mas, a propósito, pelo que vejo, reenvio. Isto, não sem antes partilhar um pensamento, para o qual peço e desde já agradeço o concurso de todos quantos o queiram ratificar em geral e possam enriquecê-lo, com mais sabedoria, em particular:

A «caridade», no sentido social-cristão, salvo os cada vez mais minoritários «homens e mulheres de Boa-Vontade», está tomada de assalto por uma plêiade de fariseus, que não têm qualquer pejo em cobrar - ostensiva ou veladamente - os seus dízimos pelas colectas em que se empenham, sob o sinal da Cruz.

A «solidariedade», no sentido laico - privado e/ou associativo, público e/ou estatal - salvo meritórios programas e iniciativas levadas a cabo por cidadãos, instituições ou governantes que permanecem leais à «ética republicana», tornou-se parceira comercial do mais despudorado mercantilismo de agiotagem, onde o Estado insaciavelmente usurpador, não só é corrupto como utiliza as suas políticas para ensinar indivíduos, famílias e empresas a roubar, pois é exactamente duma sociedade reles, canalha, bruta, ignorante, mesquinha, mentirosa, aldrabona, fingida e encardida, desde a base até às cúpulas, que o «Sistema» precisa.

Para encontrar a mesa e o alimento donde arrota e regurgita as mascas que, como quem dá ou subsidia, atira com cuspo aos seus beneficiários, sempre ávidos por engolir uma fatia de bolo mastigada, e imunes a qualquer contágio salivar, ou não fosse o seu triste modo de vida um produto desse engodo.

A iminência da «bancarrota nacional» não é nenhum sonho de uma noite de nevoeiro. Paira sobre o País como as nuvens negras das cinzas da Islândia... basta que os credores de Portugal desconfiem mais um nada da parasitagem que por cá vai e determinem o fim do crédito.

Ninguém a deseja e talvez a música das cigarras que por cá cantam consiga enrolar quem nos banca, pelo menos até 2013...

Seja lá como for, o certo é que o cerco está montado, a malha vai apertar, e vamos ter de viver com menos. As notas vão passar a moedas, as moedas a trocos, e os trocos a mealheiros vazios, feitos em cacos de vidro, que nem os cães farejam...

Entre vicissitudes, contrariedades e novos hábitos, impostos pela força das circunstâncias, quiçá alguma virtude possa despontar:
Coisas até agora abandalhadas, tais como a «caridade», perdida, e a «solidariedade», defraudada, talvez recuperem algum do seu sentido matricial, e quem sabe se os fundamentos que lhes subjazem não serão redescobertos, como via para dar resposta, agora substantiva e libertadora, numa sociedade atolada em dificuldades e, desta feita, sem o vil abono dos colonos e seus capatazes???

Com os melhores cumprimentos,

Ricardo Alves Gomes


PS: Escusado será referir que estas palavras não visam a angariação de fundos e os donativos que a Madeira recolheu, na sequência da catástrofe natural que ali se abateu. Creio que os meus amigos madeirenses nem por sombras farão essa leitura. Bem antes pelo contrário. Serão quem melhor interpretará um pensamento geral, que surge a propósito de um mail que circula na internet e que suscita outras questões relacionadas, as quais acabam por reconduzir-se ao tema da «solidariedade no âmbito do Estado-social português», bem como à precária situação macro-económica nacional.

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À margem da resposta acima transcrita, bem como do post scriptum:

Para alguns, em especial nos maiores centros urbanos, cuja realidade o autor destas linhas conhece bem, esta "conversa" pode soar a mera maledicência, pois pode parecer que não se alinha pela coesão social. Importa, pois, esclarecer que a carta é escrita a partir do "regime mais soviético de toda a União Europeia", em vigor nos Açores e que, a haver "Garcias", tanto o PS como o PSD figuram entre os destinatários, sendo que a extrapolação para o todo nacional, pese embora possa ganhar forma de caricatura aqui ou ali, também por isso, vai parar direitinha ao "Bloco central".