segunda-feira, 1 de março de 2010

A opinião de Vasco Pulido Valente - há muito que dizemos...

O fim do Regime?

Os regimes começam a cair pelos seus partidos. Portugal é um exemplo claro. Quando os partidos tradicionais da monarquia constitucional, o Partido Regenerador e o Partido Progressista, perderam qualquer espécie de identidade ideológica e programática, falharam sucessivamente no governo e se desintegraram em facções sem significado e sem destino, a República chegou. E, na República, quando o Partido Democrático de Afonso Costa, depois de 1918, deixou o seu jacobinismo original e passou a ser um conjunto de pequenos ranchos que se guerreavam, nada podia já impedir o 28 de Maio e a Ditadura. Mesmo a Ditadura se desfez, quando Salazar morreu, em bandos de "notáveis" que se detestavam e que pouco a pouco conseguiram paralisar Caetano.

A agonia desta II República, sob que vivemos, também está hoje à vista no calamitoso estado dos partidos parlamentares. O PC há 20 anos que não acredita na revolução e só quer impedir o governo de governar - seja ele qual for: da direita, do centro ou do PS. É um apêndice maligno, que dura contra todo o senso e toda a lógica. O Bloco, que não passa do PC da nova classe média, não serve para nada. Acabou por se tornar num grupo de protesto vociferante e vão, incompreensivelmente instalado em São Bento. E o PS, que Sócrates transformou numa tropa calada e reverente, vai desaparecendo agora, afundado (com razão ou sem ela, não importa) em escândalos de vária ordem e gravidade, e numa crise que não previu e não soube tratar. Como pode ele, sozinho, sustentar o regime?

Quanto ao PSD, Santana Lopes disse ontem que é, literalmente, uma "casa de ódios". Não vale a pena insistir na balbúrdia eleitoral em curso e na irremediável mediocridade dos candidatos. Ou no congresso extraordinário, que se reunirá em Março, ninguém percebeu ainda por quê e para quê. O PSD "precisa de salvação", como explicou Santana? Com certeza que sim. Mas, "precisando de salvação", como se propõe esse náufrago salvar o país? Falta falar do CDS ordeiro e laborioso de Paulo Portas, que não sai e parece que nunca sairá do seu cantinho. Por muitos méritos que lhe atribuam ou que, de facto, tenha, contar com ele não é realista. Na II República já não existem partidos. Existem sombras de partidos, restos de partidos, destroços de partidos. O regime não irá durar muito.

Vasco Pulido Valente, edição do "Público" de 27.02.2010 

3 comentários:

Inez Dentinho disse...

De onde se conclui que a centenária República, que agora merece os nossos festejos públicos e despesas oficiais, deu lugar à substituição de uma democracia de partidos alternantes, com liberdade de imprensa e liberdade religiosa, por um sistema de partido único (primeiro republicano, depois sob a forma da União Nacional, sem liberdade religiosa, primeiro com a expulsão dos Jesuítas e a vigilância republicana das paróquias, depois pela oficialização de uma Igreja Católica circunscrita pela Concordata de 1940.
Dos 100 anos da República, 66 foram dominados por oligarquias monocromáticas que degeneraram, depois de 1974, na oclocracia a que estamos votados (sistema de governo em que predominam as classes inferiores). Se era para chegar a esta coabitação de partidos sem chama nem rumo, antes a Mpnarquia constitucional. Pelo menos teriamos alguma categoria na Chefia do Estado.

JAJ disse...

O Rei é livre.
O Rei é assim absolutamente livre, e livre será o povo.
O Rei não governa, reina.

Ricardo Alves Gomes disse...

Embora não concorde com as vossas conclusões, compreendo que o torpor existente é propício à manifestação de ânimos monárquicos.
A refundação de que o Regime carece obrigará a reestruturar cada alicerce do Estado, a começar pela reforma do sistema político.
Nesse âmbito - há muito que o defendo - matérias há que deverão ser objecto de Referendo; a opção República/Monarquia deve, pois, ser sufragada pelo Povo.
Se alguém vê método melhor para debelar a discórdia centenária, que o diga.
É um republicano o diz.