domingo, 7 de março de 2010

A Revolta do Aparelho

Por que é que Passos Coelho está prestes a ser o Chefe do PSD?


1º. Começou a palmilhar o Partido, ainda não tinha mudado de voz. Com o advento do cavaquismo, ascendeu à liderança da JSD e tornou-se um símbolo da Geração Jota para pequenos profissionais de todo o País, que pensavam que o Maná das maiorias absolutas e da sobreposição entre Laranjas e Estado era fonte inesgotável. Se frutos foram colhidos, "vícios" e fundas expectativas foram aí criadas. A factura havia de chegar;

2º. Depois, com o princípio do descalabro, em 1995, de Guterres para cá (com o fugaz intervalo de 2002/05) a longa travessia do deserto, agravada por reveses em catadupa, em vez de renovar o Partido, cristalizou-o e ensanduichou completamente a tal geração, que hoje anda na casa dos 45 e desde os 20 que não respira. Sempre calcada por quem tinha 25 anos no 25 de Abril e passados 30 anos de exercício de cargos políticos, hoje ao redor de 55, quando não daí para cima - ainda se sentem jovens. Tanto assim é que não conseguem deixar de olhar para os novos como putos, esquecendo-se da idade que tinham quando começaram a subir nos palanques e a ser eleitos para isto e para aquilo, sem nunca mais parar desde então;

3º. Esse afunilamento, por um lado, com a míngua de Poder, por outro, foi cavando um fosso enorme, cujas sequelas estão à vista, para as quais ainda muito contribui o sentimento que perpassa na Geração Jota; é pródiga em canudos, viaja mais, tem mais acesso a todo o tipo de informação e manuseia as engrenagens estatutárias, a vida das secções, a composição das listas, as acções de campanha e a comunicação social melhor que ninguém. Numa palavra, a máquina pertence-lhe;

4º. Ora, como é bom de ver, esta gente, num Partido à deriva e sem pão para distribuir, está farta de ser subalternizada, de permanecer na segunda linha, e de a cada eleição servir de pau para toda a obra, servindo à mesa a papa dos outros. Esta gente pressente que se não tomar as rédeas do Partido agora, morre, pura e simplesmente;

5º. Quem melhor que Pedro Passos Coelho para comandar estes novos proletários, vestidos de fato, gravata e com uma calculadora no bolso, que já entregaram mais de metade da vida ao Partido e continuam a sentir-se tratados como pessoal menor? PPC é a personificação de cada um e surge, assim, como o libertador de todos, pronto para soltar o Grito do Ipiranga;

6º. Quando uma multidão, como a maioria daqueles que vão estar em Mafra, apoiantes de PPC, está no limite, entre ser excluída e garantir a vida, ai de quem lhes faça frente de barriga cheia!

7º. Aguiar Branco e Paulo Rangel podem fundir-se, podem arrojar-se, podem espernear, podem até transfigurar-se no Congresso. Nada do que fizerem demove ou abala a fé dos descamisados;

8º. A ironia do destino é serem, alegadamente, sectores cavaquistas a tentar parar a Revolta de Passos em 2010, quando foi o mesmo cavaquismo que, nos idos de 85/95 achava muita graça aos meninos de então. Esqueceram-se que eles iam crescer;

9º. O turbilhão passista que aí vem é apenas a mais natural das consequências de um salto geracional que, por não ter sido, será agora arrancado a ferros;

10º. Quem não perceber isto, é sinal que nunca viu mais que para lá do palco, das luzes, e das figuras do PSD, nunca tendo olhado para o que há muito estava guardado, atrás do pano: Soldados, prontos a tomar o Partido de "assalto" e a fazê-lo seu.