sexta-feira, 26 de março de 2010

Velhos ícones e bandeiras, protestos novos

Em 2007, Salazar foi eleito o maior português de sempre, em concurso promovido pela RTP, e ainda em 2010 quem entrar numa qualquer livraria encontra uma carrada sem precedentes de publicações alusivas ao Estado Novo.
Depois, em 2009, o PNR despertou todas as atenções, quando afixou cartazes polémicos em Lisboa, com especial impacto no Marquês.
Desde há uns meses, têm misteriosamente aparecido bandeiras da monarquia hasteadas em pontos simbólicos, como nos Paços do Concelho de Lisboa e, agora, no alto do Parque Eduardo VII.

Estes sinais, apesar de exprimirem fenómenos díspares na sua essência, quando somados, na globalidade, revelam o quê? Um recrudescimento dos partidários do fascismo, do nacionalismo, ou da causa monárquica?
Em certa medida, talvez, acompanhando, de resto, ventos que há muito sopram da Europa. Postas as dúvidas teóricas sobre mutações sociológicas de parte, hão-de significar também, cremos, um autómato de resposta, por contraposição, à guarida que o Estado tem vindo a dar a um extensa lista das chamadas causas fracturantes da esquerda.

Por outro lado, hão-de poder ser interpretados como uma desilusão com a situação actual do País e com a saúde da Democracia que resultou do 25 de Abril, tendo em conta a esperança criada em 1974 e as expectativas redobradas em 1986, com a nossa entrada na CEE.
Sobrelevam agora, em 2010, ano centenário da República, uma descrença gigante no Estado e nas suas Instituições, uma revolta enorme contra a percepção da falência instalada e as injustiças sociais, um sentimento de desnorte e desânimo colectivos, de quem não vê luz ao fundo do túnel e não sabe mais no que há-de acreditar. Nem tem, ao menos, uma referência que desperte qualquer tipo de entusiasmo.
Insegurança é a palavra. E quando as pessoas se sentem inseguras é fácil perceber que recuperem velhos referenciais, ainda que não deles doutrinariamente convictos, mas como bandeiras de protesto contra o status quo vigente.

É por isso que hastear qualquer símbolo que contrarie os símbolos do Sistema ataca mais este que balas de canhão. É também por isso que quando todos vierem para a rua com as suas bandeiras em punho, sejam de direita ou esquerda, o Regime cai novamente, de podre, sem que seja necessário disparar um tiro.
Valham-nos os brandos costumes – em Portugal bastam cânticos e flores. Bastarão?