sexta-feira, 12 de março de 2010

Os herdeiros que se habilitem à crise!

Embora cada vez maior número sinta a crise na pele e muitos tenham agora uma percepção mais nítida da situação, facto é que os portugueses continuam meio anestesiados, sem saber, ao certo, a verdadeira gravidade social e económico-financeira do País, à beira da ruptura. A classe política, por regra, seja a que está na oposição ou no poder, aos vários níveis - autárquico, regional e central - vai disfarçando os abismos com favores e pacotes de vacuidade, paliativos para que as bolhas efervescentes não se agrupem e as populações não expludam em desespero e revolta.

Embora cada vez maior número comece a intuir o grau de descontentamento popular e muitos pressintam o rastilho que cobre o País de uma ponta à outra, facto é que as estruturas dirigentes ainda não se aperceberam quão desacreditadas estão aos olhos das estruturas hierárquicas e das comunidades que comandam, prosseguindo na farsa autista, que faz tudo para acreditar na mentira que diz e assim caminha, esgazeada.

No dia em que representantes e representados atinjam paridade plena, quebrando-se definitivamente as linhas divisórias de um lado e doutro, esse feixe vai desencadear choro e ranger de dentes. Ora, isto seria alarmante mas transponível se nos fosse possível desenhar a substituição de uma classe dirigente por outra, nova, com regime incluso, que a História costuma encarregar-se de promover através dos seus solavancos.

O maior perigo que enfrentamos é o da sociedade portuguesa estar tão fragilizada que nem disponha mais de capacidade para recrutar um efectivo apto a preencher o vazio, após “o saque e a rapina”. Sem fartura na mesa não há “devoristas”. Haverá, quando muito, “caça migalhas e pilha galinhas”.

Quem quererá administrar uma IPSS, empresa ou autarquia falida, com os fundos da UE esgotados e sem possibilidade de recurso à banca? Quem estará disposto à incumbência da responsabilidade a troco de impopularidade? Quem quererá integrar governos cujo programa será pagar scuts, leasings e juros de dívidas? Quem aceitará entregar-se à vida pública como a um “sacerdócio”?

Caso não existam “reservas por descobrir”, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior e do Continente às Ilhas, estamos feitos.