sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Objectivamente, é isto.

Vi a declaração do Primeiro-Ministro. Ao contrário do que julgo ter sido a opinião maioritária dos comentadores, acho que Sócrates esteve bem. Basicamente, impunha-se ao PM que tivesse condições para dizer duas coisas. E teve-as. Primeiro, amparado pelo Procurador-Geral, veio reiterar solenemente que alguma vez tenha estado envolvido na “lama”, socorrendo-se da Lei e do que resulta da acção da Justiça no nosso “Estado de Direito Democrático”. Depois, tendo Pinto Monteiro de antemão chutado a coisa para o campo político, o PM fez o que devia; dizer que vai dar luta, que não cede, nem se deixará abalar pelo ruído e nuvens negras que o têm cercado, para mais quando foi sufragado há poucos meses e sabendo, dizemos nós, que o sistema não é capaz de gerar uma alternativa à sua substituição no cargo. Seja por iniciativa presidencial, seja através da precipitação de uma queda no Parlamento, ou até, como chegou a ser ventilado há dias, pelo próprio PS.

Não pode deixar de ser assinalado que o “toca a reunir” do PM junto das hostes socialistas parece começar a despontar. Foram afinados os desacertos iniciais, o Partido fala a uma só voz, está cerrado em torno do Chefe, os senadores - a começar por Soares, Santos e Alegre - já vieram acudir e, imagine-se, existe ainda infantaria pronta a sair para a rua, para defender a “Regência”. Essa é que é a asneira, que os opositores podiam aproveitar, caso, efectivamente, quisessem fazer cair o Governo. Por cada manifestante “pró”, punham em marcha uma contra-manifestação de dois “contra”. Mas não põem porque são uns cobardolas e estão tão agarrados ao sistema quanto o PS. Iguais. Em Belém, o silêncio é de ouro. Nem o mais pálido sinal. O Palácio dorme na paz dos anjos. Na Assembleia da República, as oposições falam, falam, mas fazem aquilo que em linguagem parlamentar se chama “o discurso da desobriga”. Para justificar o que andam a fazer vão “engonhando” com comissões de inquérito que, quando e se chegarem a alguma conclusão, a Legislatura já vai longa. Na comunicação social, o Jornal “Sol” vai fazendo o seu trabalho, mostrando boys e transcrições de escutas - as quais o PGR diz haver dúvidas jurídicas sobre a quem compete executar o despacho que as mandou destruir… tudo bem.

Independentemente dos contraditórios que possam vir ser oferecidos a este “quadro”, do ponto de vista estritamente político e quando comparado com outro, boa parte do PSD, do CDS, Cavaco Silva, e muita comunicação social, deviam ter vergonha na cara… nem lavar as mãos souberam, como Pilatos. Tenho escrito aqui que o problema de Portugal não está no PM. Se estiver, tanto está nele como nos demais Órgãos do Estado. É por isso que a “vassourada” devia tocar a todos. É por isso que não toca… é também por isso que quando vemos por aí uns “caramelos” a atirar “postas de pescada”, mas que não são capazes de dar um passo, ficamos esclarecidos - antes fossem mas era sachar milho! Objectivamente, é isto.

1 comentário:

JAJ disse...

No fundo Ricardo, a nossa classe política não passa de um bando de cretinos, comprometidos uns com os outros. Uns autênticos cretinos que vivem à custa da sociedade e cuja sua prioridade é a manutenção dos seus tachos. Por muito menos Santana foi corrido, talvez por não ter a legitimidade das urnas não ofereceu resistência, como este “Pinócrates”.

ELOGIO DO CRETINO

Devo dizer
que gosto de cretinos. Não, garanto que não é por piedade
mas por apreço convicto. Talvez com uma pontinha de malícia
mas sem acinte nem ferrete. Uma (como dizer?) maneira
de tímida ternura.
Afinal – não é verdade? – o cretino
é uma espécie humanóide altamente meritória
e multifacetada: vive conosco à mão de semear, conhecemo-lo
das ruas, vemo-lo
na TV, lemo-lo nos jornais… Ele acompanhou sempre
nos mais expressos lugares
a rude humanidade
desde o fundo dos tempos, desde os primórdios
da vida. À roda da fogueira
lá nas épocas longínquas do período quaternário
quando ainda não havia cretinices modernas (televisão, rádio
parlamento…) podeis crer que já havia, embora hirsuto
um ou outro cretinus sapiens. E pelos tempos fora
na idade dos ancestros da pré-história
que seria dos inícios adequados
da social organização
sem um par de cretinos a adorná-la?
(...)
Numa recepção de Estado, no salão duma autarquia,
numa cerimónia de homenagem a um que nada fez mas morreu tarde
ou demasiado cedo, co’os diabos do talento
seja na capital ou na feliz província
a presença de cretinos é uma jóia sem preço:
são os que convictamente
mais aplaudem, sem maldade
nem cálculo traiçoeiro
ou gritam apoiado
criando felicidade
no elenco inteiro
ou mais valia, nas forças vivas da cidade.
(E em geral,
por ironia do destino
o orador habitual
é que costuma ser, por sinal
o maior cretino!)
(...)
NIcolau Saião (excertos)