domingo, 21 de fevereiro de 2010

Madeira


 Os insulares mantêm uma relação diferente com as forças da Natureza. Quer dizer, nascem habituados a relativizar o risco, por determinismo geográfico. Estão cônscios de quão limitado é o Homem ante o poder colossal do meio ambiente, em que vivem. Seja por estarem próximos do mar, de uma falha sísmica, de um vulcão, da exposição a intempéries, ou da morfologia dos solos. Mas ali teimam habitar, retirar o seu sustento, fazer as suas vidas e ser felizes. De tempos a tempos, os caprichos naturais manifestam-se com estrondo, como que a relembrar de quem é a última palavra. E é preciso começar de novo. E não é por isso que se quebram os laços entre o Homem e o seu pedaço de terra. E também não é por isso que as cargas telúricas demovem os insulares de continuar, numa resistência constantemente enrijecida. É dessa tensão permanente que nasce a tal idiossincrasia, com variáveis entre as ilhas, razão para se dizer que cada qual é um «mundo».

Os relatos e as imagens que nos chegam da catástrofe na Madeira são impressionantes; pelas dimensões do impacto da tempestade, bem como por todas as consequências materiais e humanas que acarretam, havendo já registo de várias dezenas de vítimas mortais, embora seja ainda prematuro avaliar os efeitos totais da desgraça ocorrida nesta parcela de Portugal.

O País está enlutado. É dever de todos, a começar pelo Estado, prestar auxílio e ajudar os sinistrados, sobre as mensagens de consternação e pesar, para conforto dos que choram. Enche-se ainda de significado a presença no local dos mais Altos Responsáveis, da Região e da República, manifestando o amparo devido - posto ao alcance das mãos e do olhar daqueles que mais perderam; os famíliares, amigos e vizinhos das vítimas.

Depois, enterrados os mortos e assistidos os vivos, é mister pôr mãos à obra e começar a tratar do novo dia. O rasto da destruição na Madeira será removido e a Ilha sofrida saberá restituir-se. Reerguendo-se, sarando as feridas, repararando os prejuízos, e voltando rapidamente ao labor e à vida. 

Nesta hora de tristeza e desolação, envio um Abraço, de força e coragem, a todos os madeirenses.

PS: O momento é de respeito e de acção. Casos há em que a palavra "solidariedade" soaria mais autêntica se no lugar dela imperasse atitude discreta e silêncio… o mais reles oportunismo politiqueiro não está convocado para a dignidade que o momento exige. Uma coisa é respeito, outra são vôos de "abutres rasantes". Não há dor que os não identifique, nem sentimento que os não repudie.