domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sócrates, tem a palavra para alegar

Tudo se conjuga para que o Primeiro-Ministro consiga dar por vencida, ou melhor, por não perdida, a luta pela sua manutenção à frente do Governo, isto, após semanas de cerco à trincheira onde se abrigou, com fogo cerrado e bombardeamentos de toda a parte, debaixo de um Sol tórrido.

Sócrates, que esteve por um fio, foi buscar fôlego à natureza que caracteriza os sobreviventes e aí está, reanimado, de novo à frente das suas tropas mobilizadas. Ei-lo. Pronto para o confronto com quem lhe quiser dar luta. Mérito dele, por inteiro? Não. Mérito dele? Sim. Aguentar é duro. Já correram rios de tinta sobre o(s) envolvimento(s) do PM em escândalo(s) e muita tinta está por derramar. Tinta. Pouco mais que tinta. Vamos ao essencial - Justiça, Carácter e Política.

Na Justiça, é notório que o PM começa a ganhar. O enriço é de tal ordem que as malhas judiciais não apanham (se é que apanham) mais que boys. Os tentáculos do Polvo, num País tão pequeno quanto dependente do Estado, têm ventosas bastantes para envolver (quase) todos os actores da Peça Nacional em Cartaz, os quais, anulando-se, anulam os mecanismos judiciais, redundando, assim, a acção da Procuradoria-Geral da República num logro, cuja amostra são as voltas do Procurador, provavelmente a cabeça que vai rolar no fim.

No meio deste caos, não há carácter que possa ser escrutinado dentro das regras, em observância das Liberdades e Garantias consagradas, pois o novelo é de tal ordem confuso que a própria opinião pública (que não a publicada) fica sem saber em quem acreditar, concluindo, à portuguesa, que são todos iguais. Esta balbúrdia colectiva acaba por favorecer o PM, que não pode ser crucificado em processos de intendência subjectiva, para remissão do carácter de um País inteiro.

Por fim, as águas da política. Não é por causa do PEC, nem da estabilidade governativa, nem da credibilidade do Estado perante entidades externas, nem dos mercados financeiros, nem da urgência em dar respostas à crise social e económica… nada disso. Esses argumentos, utilizados pela Oposição, não passam de desculpas esfarrapadas para disfarçar o óbvio - que não só não é alternativa, como foge de eleições a sete pés. A mesma Oposição que acusa o Governo de actuar em função das sondagens. Expressões engraçadas, tais como "abstenção construtiva" ou "moção de bom senso" seriam de gargalhada, se não traduzissem o conceito acabado da inconsistência no pântano, onde a Oposição também habita.

A camada fina da cobertura do Bolo não se fica por aqui. É feita à custa de alegados interesses nacionais, por aqueles que preterem o País a Cavaco Silva, cuja reeleição, asseveram sem dizer, é do maior interesse nacional. São muitos interesses à mistura, de facto! Onde é que está a legitimidade, a credibilidade, o carácter e a transparência (políticas) de quem clama contra Sócrates?!

É bem possível que nos próximos dias esses brados comecem a intensificar-se. Puro fogo de vista, para consumo interno... quantas mais forem as vozes mais se revela O Coliseu, de um lado, e Mais uma vida para o PM, do outro. Cabe a José Sócrates confirmar esta tese, na entrevista a Miguel Sousa Tavares, onde tem a palavra para alegar.