segunda-feira, 29 de março de 2010

França: novo partido

O antigo primeiro ministro francês Dominique de Villepin, adversário declarado do presidente Nicolas Sarkozy , lançará em junho um novo partido político que pretende ser uma alternativa à direita nas eleições presidenciais de 2012, anunciou hoje um colaborador próximo.
Desde domingo à noite, após a pesada derrota do partido presidencial União para um Movimento Popular (UMP) nas regionais, o primeiro ministro do presidente Jacques Chirac entre 2005 e 2007 fez saber que anunciaria quinta feira a criação de um "movimento ao serviço dos franceses".
"Quinta-feira e nas próximas semanas Dominique de Villepin vai preparar-se para apresentar aos franceses um outro projeto, uma alternativa para 2012", confirmou hoje à rádio France Inter François Goulard, deputado da UMP próximo de Villepin.
Goulard precisou que o novo partido político, que "ainda não tem nome", será criado oficialmente "no mês de junho". (…)
(Expresso, 22.03.2010)

Que dirão os nossos politólogos e comentadores a esta notícia?
Lembram-se como e quando se formou a UMP em França, e que espaço veio ocupar? Lembram-se como e quando se formou a UCD, em Espanha, e quem veio ocupar o seu espaço posteriormente? Lembram-se como e quando foi refundado o LS, no Reino Unido, e quais as suas raízes? É claro que todos têm bem presente a criação do diabolizado PdL em Itália... mas sabem que força política integra no Parlamento Europeu, bem como quem são os partidos portugueses que integram o PPE, não sabem?

domingo, 28 de março de 2010

Bom ar

No Verão passado, uma professora do ensino secundário dizia-me que Isabel Alçada tinha feito um excelente trabalho no Plano Nacional de Leitura. Empossado o actual Governo, entre as novas figuras, a Ministra da Educação sobressai. A imagem que irradia é apelativa; culta, moderna, inteligente, fora dos padrões convencionais, irreverente, e tem «bom ar». Um refresco. A entrevista que deu, há umas semanas, à Revista do Expresso, veio aclarar essa percepção.

É certo que o ME viu o seu orçamento reforçado, para pacificar a guerra com os professores e negociar o processo de avaliação dos docentes. Mas quantas vezes vemos isso acontecer e os resultados nem assim aparecem? Mais recentemente, com Isabel Alçada, o estatuto do aluno já sofreu mexidas inevitáveis, no sentido de ser devolvida alguma ordem às escolas. Vale o que vale mas não deixa de ser um sinal importante.

Definitivamente, sobretudo nestes tempos de crise, onde tudo se nos afigura triste e baço, precisamos de governantes que aliem estilo à substância. A vivacidade, a classe e o glamour da Ministra da Educação têm virtude – a de não nos deprimir. Antes pelo contrário.


No batatinhas for the boys

"O Governo determinou a não atribuição de quaisquer prémios ou bónus aos gestores públicos", anunciou ontem o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, após a reunião do Conselho de Ministros que aprovou esta medida que "visa dar um sinal claro a todos, num momento de exigência de consolidação orçamental" (…) Várias fontes contactadas pelo Diário Económico salientaram que, ao abrigo da lei, o Estado não pode deixar de pagar a remuneração variável aos gestores com quem celebra os acordos em questão. Se o fizer, estes responsáveis poderão levar o Estado a tribunal, com quem assinaram individualmente os contratos em questão, para exigir o pagamento dos seus salários variáveis.

Diário Económico, 26.03.2010

Em tempos de pleno PEC, parece que os senhores gestores pretendem demandar o Estado em Tribunal, pela determinação aprovada em Conselho de Ministros para que o Ministério das Finanças proceda ao congelamento dos prémios e bónus no sector público empresarial.

Acho muito bem que vão a Tribunal...
Apanhando-os em Juízo, o Estado deve reconvir, deduzindo pedido de indemnização correspondente à totalidade do montante correspondente aos bónus, por falta de vergonha na cara e de idoneidade dos servidores contratados para a prossecução do interesse público, havendo estes ainda de ser condenados em custas e procuradoria, do seu próprio bolso, que não das dotações orçamentais das respectivas empresas para consultadoria jurídica e contencioso.

É a resposta mínima que se oferece.

sábado, 27 de março de 2010

Sacar da cartola

Se estivesse no lugar de José Sócrates - pela defesa dos "superiores interesses nacionais", das preocupações do Presidente da República, da imagem externa do País junto da União Europeia e das agências de rating, dos danos irremediáveis da Comissão de Inquérito e do fogo anunciado pelo novo líder do principal partido da oposição - jogava a cartada decisiva:

Avançava imediatamente com um pedido de Moção de Confiança ao Governo.

Aguentar os cavalos até 2011, apodrecendo, até que Cavaco Silva seja reeleito, a Assembleia dissolvida e o PSD receba o poder de bandeja, é que nunca. A clarificação política permitiria ver cada parte sacar o seu coelho da cartola e qual delas apostaria uma esfola.

Um Primeiro-Ministro não pode governar com chumbo nas asas. Se tiver que cair, que seja com honra. Jamais pode permitir-se ser queimado vivo. Por isso, é agora tempo de morrer ou viver, e quem não mata, morre.

Não enjeitar, ser jeitoso e ter jeito

Fala-se é de quem bem acaba e ele ainda nem começou.
Pedro Passos Coelho, cuja vitória foi expressiva, superior a todas as expectativas, teve pouco mais que isso – os votos de mais de 60% do "povo laranja". Logo após o escrutínio, não começou bem. Nem na imagem, nem no conteúdo.

Na imagem, apareceu-nos um "candidato" a Primeiro-Ministro (segundo o Expresso até vai formar um Governo sombra) que entrou frouxo, a fazer a declaração de vitória aos repelões, ladeado militantemente pelos seus leais companheiros Marco António e Luís Montenegro - serão Ministros do novo Governo sombra?

No conteúdo, que mais importa, deu mostras de insegurança na questão do Grupo Parlamentar, revelou fragilidades na obsessão com a unidade interna, falou demasiado para o interior da estrutura, fez um acto de contrição escusado à líder cessante, meteu a viola do confronto com o actual Governo no saco, não disse uma linha sobre o eixo fundamental com que orientará a sua liderança, e não apresentou uma ideia que fosse, capaz de mobilizar os portugueses sobre um único ponto.

Dizer que conta com todos, que é preciso unir, que vai convidar Aguiar Branco e Paulo Rangel para os órgãos e resumir, sentenciando, em conclusão, que "o PSD não é um saco de gatos", é discurso de agrupamento de escuteiros. Não é discurso de um líder que, depois de 2 anos na estrada, aqui chegado vencedor, já tinha obrigação de conseguir mostrar estar minimamente vocacionado para governar Portugal.

Pedro Passos Coelho, não há dúvida, é talentoso politicamente e sabe muito da vida partidária do PSD. Mas a política, ao nível do Estado, e o papel de Portugal, no contexto internacional, são dimensões que lhe escapam, flagrantemente. Ou aprende depressa, enquanto a graça lhe durar, ou vai ver que o Estado não é o PSD e que Portugal é bem maior que qualquer organização de direito privado.

PS: Paulo Rangel padeceria do mal ao contrário - o que lhe abundaria em "sentido de Estado" faltar-lhe-ia em instinto político.   


sexta-feira, 26 de março de 2010

Velhos ícones e bandeiras, protestos novos

Em 2007, Salazar foi eleito o maior português de sempre, em concurso promovido pela RTP, e ainda em 2010 quem entrar numa qualquer livraria encontra uma carrada sem precedentes de publicações alusivas ao Estado Novo.
Depois, em 2009, o PNR despertou todas as atenções, quando afixou cartazes polémicos em Lisboa, com especial impacto no Marquês.
Desde há uns meses, têm misteriosamente aparecido bandeiras da monarquia hasteadas em pontos simbólicos, como nos Paços do Concelho de Lisboa e, agora, no alto do Parque Eduardo VII.

Estes sinais, apesar de exprimirem fenómenos díspares na sua essência, quando somados, na globalidade, revelam o quê? Um recrudescimento dos partidários do fascismo, do nacionalismo, ou da causa monárquica?
Em certa medida, talvez, acompanhando, de resto, ventos que há muito sopram da Europa. Postas as dúvidas teóricas sobre mutações sociológicas de parte, hão-de significar também, cremos, um autómato de resposta, por contraposição, à guarida que o Estado tem vindo a dar a um extensa lista das chamadas causas fracturantes da esquerda.

Por outro lado, hão-de poder ser interpretados como uma desilusão com a situação actual do País e com a saúde da Democracia que resultou do 25 de Abril, tendo em conta a esperança criada em 1974 e as expectativas redobradas em 1986, com a nossa entrada na CEE.
Sobrelevam agora, em 2010, ano centenário da República, uma descrença gigante no Estado e nas suas Instituições, uma revolta enorme contra a percepção da falência instalada e as injustiças sociais, um sentimento de desnorte e desânimo colectivos, de quem não vê luz ao fundo do túnel e não sabe mais no que há-de acreditar. Nem tem, ao menos, uma referência que desperte qualquer tipo de entusiasmo.
Insegurança é a palavra. E quando as pessoas se sentem inseguras é fácil perceber que recuperem velhos referenciais, ainda que não deles doutrinariamente convictos, mas como bandeiras de protesto contra o status quo vigente.

É por isso que hastear qualquer símbolo que contrarie os símbolos do Sistema ataca mais este que balas de canhão. É também por isso que quando todos vierem para a rua com as suas bandeiras em punho, sejam de direita ou esquerda, o Regime cai novamente, de podre, sem que seja necessário disparar um tiro.
Valham-nos os brandos costumes – em Portugal bastam cânticos e flores. Bastarão? 

Um caminho e dois atalhos

Paulo Portas escolheu meticulosamente o dia para vir dizer que apoia a recandidatura de Cavaco Silva dado que entre este a Manuel Alegre, especialmente em tempos de crise, prefere confiar o seu pé-de-meia ao Senhor Professor. Pois… equacionado assim, até o Capuchinho Vermelho chegava lá… assim, o líder do CDS/PP já leva avanço sobre o novo eleito do PSD, o qual, pelo caminho até à casa do bosque, irá encontrar quem o ponha por atalhos.

A Senhora previdente

Quem está de saída costuma receber elogios. Este não é um elogio do costume.

Manuela Ferreira Leite a quem cabia decidir sobre o PEC, fê-lo bem, em coerência - na linha da orientação que havia traçado para o Orçamento de Estado para 2010, em consonância com a preocupação de minorar os riscos para o rating do Estado Português, sensível aos apelos do Presidente da República, valorando, em última análise, a não precipitação de uma crise política, de que poderia vir ser acusada de ter provocado gratuitamente na véspera dar lugar a outro. Como quem diz, "deixo-vos descomprometidos e livres para assumirem as vossas posições de motu próprio". Faz sentido.

Se algum dos rapazes quiser esticar a corda, que o faça, mas à custa do seu próprio pescoço. É claro que os rapazes irão alegar o compromisso assumido a 25 de Março, sob a regência de Ferreira Leite, para contemporizarem. Até nisso a Senhora foi previdente...

quinta-feira, 25 de março de 2010

A sondagem dos melões

Quase todos os dias há sondagens na rua, para todos os gostos. 

Seria interessante sair uma sondagem com as respostas dos portugueses a esta questão:

Entre Paulo Portas, Pedro Passos Coelho e Paulo Rangel, qual destes três políticos tem mais perfil para exercer o cargo de Primeiro-Ministro?


Os entalados

Paulo Portas antecipou-se, mais uma vez, e fez saber que o CDS/PP votaria contra o PEC. Passos Coelho e Paulo Rangel vieram expressar posição de igual teor. Acontece que o Governo não acedeu em adiar por uns dias a votação do Programa, aguardando pela nova liderança do principal partido da oposição, avançando-se, assim, para a votação no Parlamento com o PSD numa situação de "gestão corrente". Donde, esta força partidária, em coerência, só poderia votar contra, em sintonia com a posição de qualquer um dos dois que virá assumir a presidência dos social-democratas.

Uma coisa parece cada vez mais certa - desconhece-se que papel está reservado a Passos Coelho e Rangel em futura governação. Mas é cada vez mais consistente a hipótese de Paulo Portas ser parte de um novo Governo. Só não se sabe é quando... isso só depende do fim da "regra da abstenção" do entalado PSD, que no dia em que assumir querer livrar-se de Sócrates vai parar direitinho ao colo de Portas. 

domingo, 14 de março de 2010

Mão à palmatória

Curioso ver certos congressistas declarar terem sido contra a realização da Reunião Magna pré-eleitoral mas a reconhecer que se tinham enganado…
Antes pelo contrário! O que, em princípio, era o modo mais adequado e uma boa oportunidade para promover um debate clarificador dentro do maior partido da oposição redundou numa mera amostra dos dotes dos candidatos: Passos Coelho não é uma "máquina". Aguiar Branco é o que é. Paulo Rangel não é o "apagão" revelado nos debates. Os três, bons e talentosos políticos, não é isso que está em causa. Mas não fossem as intervenções dos ex-líderes, que vieram compor a “honra do convento”, matizando-a com bons discursos, ficaria a dúvida se o Congresso era da "Jota" ou um verdadeiro conclave para a escolha de um candidato a Primeiro-Ministro. Quem ganhou? Cavaco Silva, pois claro. Os "rapazes" portaram-se bem. Deram-lhe a mão à palmatória. O Congresso não lhe podia ter corrido melhor. Apesar do seu nome, quando referido, não parecer entusiasmar muito "as claques"...

sábado, 13 de março de 2010

Deve ser mera coincidência

Em post de 26 de Fevereiro passado escrevíamos aqui:
(...) Quando é que alguém tem a coragem de propor ser de Lei que a atribuição dos subsídios sociais do Estado deva depender, sob condição resolutiva, da prestação de serviços à comunidade por parte dos beneficiários? Fracturante? Melhor ainda…

É claro que saudamos Pedro Passos Coelho por ter vindo agora propôr essa medida em matéria de economia social. Até parece que PPC leu o referido post. Não cremos. Deve ser mera coincidência. 

Comentários de alto gabarito

Na semana passada elogiei o Programa “Expresso da Meia-Noite” pela boa conversa que nos proporcionaram Maria João Avillez, Ângela Silva e José Adelino Maltez sobre o PSD. Hoje, não suportei mais que 10 minutos de Marques Lopes, Henrique Raposo, Rui Oliveira e Costa e um politólogo de serviço. São todos muito respeitáveis, aparecem em televisão ou jornais "de referência", o que também ajuda, logo, aparecem como "vozes autorizadas" para fazer a apologia dos seus candidatos (os dois primeiros). O desconhecimento histórico, a confusão conceptual, a leviandade com que tratam o fenómeno político e a superficialidade com que abordam o processo de escolha de um candidato a Primeiro-Ministro não interessam para nada... o que é preciso é rir e levar a coisa como se fosse a eleição do chefe de turma lá do liceu. Já faltou mais para termos os Morangos com Açúcar a fazer comentário político. De certeza que era mais divertido.

Aguiar Branco 1 - Passos Coelho 0

Aguiar Branco, que não é um cromo, não precisou de muito expediente nem grande esforço para fazer Passos Coelho "patinar". Bastou-lhe olhar para PPC nos olhos e fazer-lhe duas perguntas de algibeira.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Virgens ofendidas

O Ministro Teixeira dos Santos, a que ninguém há-de invejar a sorte, protagonizou ontem no Parlamento uma "cena" menor. Durante uma controvertida discussão com a oposição, sobre uma previsão orçamental de transferências de verbas para as Juntas de Freguesia, a folhas tantas, exasperado, exclamou no money for the boys. O que foi dizer! Triste foi a figura das "virgens ofendidas" que logo se levantaram de várias bancadas. Era visível o agravo daquelas almas… que nem em esforço conseguem lembrar-se das suas "primeiras comunhões".

Ética do Regimento


Gostava que alguém me explicasse por que razão hão-de prosseguir as audições promovidas pela Comissão de Ética da Assembleia da República (no caso, sobre o negócio gorado PT/TVI) a partir do momento em que um ou mais Grupos Parlamentares conclui haver colhido ali matéria bastante para a constituição de uma Comissão de Inquérito, isto, quando nesta nova sede as audições promovidas repete o rol dos depoentes, sem embargo de lhe acrescentar novas convocatórias, que eventualmente sejam pertinentes para melhor concluir.

Falta-me técnica sobre o regimento, reconheço, e talvez perceba pouco de política, admito. Mas creio ser dilatório quando não ocioso que o Parlamento faça tábua rasa do princípio da economia processual e parece-me evidente que deixar arrastar o desfile de personalidades na Comissão de Ética é enlamear sem causa a vida pública, é prejudicar o nome dos visados pela Comissão de Inquérito e é escarafunchar em duplicado aquilo que deve ser apurado e "julgado" por inteiro.

A não ser, como frequentemente parece, que alguns dos titulares dos mandatos conferidos pelo povo português esqueçam que têm assento num órgão de soberania e não numa casa de espectáculos com bilhete para assistir de camarote às actuações de variedades dos "notáveis" da nossa praça, com que banqueteiam a voragem própria do deslumbramento que lhes revela a pequenez.

Os herdeiros que se habilitem à crise!

Embora cada vez maior número sinta a crise na pele e muitos tenham agora uma percepção mais nítida da situação, facto é que os portugueses continuam meio anestesiados, sem saber, ao certo, a verdadeira gravidade social e económico-financeira do País, à beira da ruptura. A classe política, por regra, seja a que está na oposição ou no poder, aos vários níveis - autárquico, regional e central - vai disfarçando os abismos com favores e pacotes de vacuidade, paliativos para que as bolhas efervescentes não se agrupem e as populações não expludam em desespero e revolta.

Embora cada vez maior número comece a intuir o grau de descontentamento popular e muitos pressintam o rastilho que cobre o País de uma ponta à outra, facto é que as estruturas dirigentes ainda não se aperceberam quão desacreditadas estão aos olhos das estruturas hierárquicas e das comunidades que comandam, prosseguindo na farsa autista, que faz tudo para acreditar na mentira que diz e assim caminha, esgazeada.

No dia em que representantes e representados atinjam paridade plena, quebrando-se definitivamente as linhas divisórias de um lado e doutro, esse feixe vai desencadear choro e ranger de dentes. Ora, isto seria alarmante mas transponível se nos fosse possível desenhar a substituição de uma classe dirigente por outra, nova, com regime incluso, que a História costuma encarregar-se de promover através dos seus solavancos.

O maior perigo que enfrentamos é o da sociedade portuguesa estar tão fragilizada que nem disponha mais de capacidade para recrutar um efectivo apto a preencher o vazio, após “o saque e a rapina”. Sem fartura na mesa não há “devoristas”. Haverá, quando muito, “caça migalhas e pilha galinhas”.

Quem quererá administrar uma IPSS, empresa ou autarquia falida, com os fundos da UE esgotados e sem possibilidade de recurso à banca? Quem estará disposto à incumbência da responsabilidade a troco de impopularidade? Quem quererá integrar governos cujo programa será pagar scuts, leasings e juros de dívidas? Quem aceitará entregar-se à vida pública como a um “sacerdócio”?

Caso não existam “reservas por descobrir”, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior e do Continente às Ilhas, estamos feitos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A entrevista hora H

A entrevista que o Presidente da República deu à RTP terá sido a mais crucial de toda a vida pública de Cavaco Silva. Meia dúzia de notas chegam para demonstrá-lo:


1. A aferir pelas afirmações do Presidente, não apenas pelo conteúdo mas também pelo tom indisfarçavelmente grave com que se dirigiu a Judite Sousa, se dúvidas existissem acerca da altíssima precariedade da nossa situação económico-financeira, elas ter-se-iam dissipado de vez. A diferença entre estar submersos e ter batido no fundo reside “apenas” no facto de não termos o nosso descalabro à mercê do controlo de entidades externas;

2. Partindo deste mega argumento que de facto entronca, em último grau, no mais firme empenho em salvaguardar a soberania nacional, só faltou ao Presidente fazer “um desenho” para dizer que não fará soprar a mais leve brisa que suscite a detonação da “bomba atómica” e conduza Portugal a um cenário de eleições antecipadas. Isto, refira-se, na mais restrita e formal interpretação dos poderes presidenciais de que há memória, ficando, assim, "atribuído" esse impulso exclusivamente à oposição, leia-se, futura liderança do PSD;

3. No mais, foi um Presidente agarrado ao guião defensivo, que cumpriu à risca, e visivelmente inclinado para um segundo mandato prosseguindo até lá na linha do único caminho possível; segurar e segurar-se no Governo que resulta do figurino parlamentar subsequente às eleições de Outubro último, sendo clararíssima a sua ânsia em demarcar-se de todos as questões melindrosas e constante o seu esforço em dar mais oxigénio ao regime exangue;

4. Fez lembrar aquele aluno que sabe tudo na ponta da língua para o exame e que, compenetrado na sua prova, não dá conta que está cada vez mais isolado na sala, pois não consegue ouvir o toque das sirenes. Significa isto que, pelo menos até Janeiro próximo, por vontade do PR a verdade oficial transmitida ao País será de que as instituições democráticas estão a funcionar regularmente;

5. Ora, se a ponderação e o elevado sentido de Estado são pontos assentes em Cavaco Silva, largarmos aqui matéria que reúne consenso institucional para descortinarmos, do ponto de vista político-partidário o que a posição do PR acarreta, sobretudo para o maior partido da oposição, em cima de um congresso determinante:

Depois desta entrevista o PSD ficou entre a espada e a parede. Autenticamente. Os candidatos conhecidos até ao momento ficaram sem margem de manobra para "virar o bico ao prego" e serão “presos por ter cão, presos por não ter”. Se avançam com uma moção de censura, compram uma guerra sem preço a Belém. Se não avançam, serão “nados-mortos”, após terem embalado na auto-afirmação das suas capacidades de comando. Portanto, a não ser que algum tenha força para arriscar tudo, vêem-se agora numa "ratoeira”.

Das duas uma:

Ou brota do Congresso uma solução alternativa, em que o PSD consegue “dar a volta por cima”, propondo celebrar um acordo de regime com o PS, que envolva também o CDS/PP, de modo a assegurar que esta Legislatura chega ao fim e que os partidos do “arco do poder” concorrem juntos para tirar Portugal da linha de água. Ou o PSD apresenta um candidato a Primeiro-Ministro imediatamente, pronto para ir a eleições e formar novo Governo ancorado numa maioria absoluta na Assembleia da República, nem que isso custe um corte com Cavaco Silva e o lançamento simultâneo de um nome de centro/direita para se candidatar a Belém no próximo ano.

Concluindo, José Sócrates e Cavaco Silva dificilmente vão deixar de viver e morrer politicamente juntos. E o PSD, se quiser ressuscitar, no mínimo, terá de saber apear Sócrates e fazer Cavaco Silva seu refém. É o único caminho que resta ao Partido Social-Democrata, pois se a clarificação ficar em “banho-maria”, mantendo-se o impasse em que Governo e Parlamento se bloqueiam, o mero arejamento através de novos líder e órgãos dificilmente bastará para tornar a adiar uma ruptura iminente.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O andar de cima

Sabem o que costuma acontecer quando os meninos traquinas vão brincar para o andar de cima e alguém, depois, estranhando o silêncio, decide ir ver a razão de tão pouco habitual sossego, não sabem?

Ou estão muito cansados. Ou segredam os planos em mente. Ou, então, descobriram maneira de virar a casa do avesso sem que ninguém desse conta.

Se estiverem muito cansados, o dia acaba bem lá em casa. Se estão aos segredinhos, o dia acaba mal para os que forem apanhados, e bem para os que se souberem safar. Se descobriram maneira de virar tudo do avesso, a casa vem abaixo. Pelo menos o andar de cima... quer esteja quer não, o menino Marcelo Nuno metido ao barulho. 

Em grande forma

A propósito do PEC, na SIC/N, Nuno Morais Sarmento, frente-a-frente com Francisco Assis, disse mais e melhor em 30 minutos que PSD e CDS/PP juntos haviam conseguido em 48 horas. Foi acutilante sem ser demagogo, foi arrasador sem ser deselegante. Passou a pente fino os pontos-chave da desorçamentação e da previsão de receitas aventadas, sublinhou tenazmente a ausência de previsão de crescimento económico, descoseu as premissas do Governo de alto a baixo, e ainda conseguiu a "proeza" de mostrar numa rajada as diferenças nucleares entre duas visões distintas do Estado e da Sociedade. Tudo isto, perante um líder parlamentar socialista que, para além de óptimo tribuno e político respeitável é também, reconhecidamente, um pilar fundamental da defesa do Primeiro-Ministro, em várias frentes. Se juntarmos a esta prestação o teor das recentes declarações que proferiu sobre Cavaco Silva, precisamente na altura em que o Presidente da República começa a dar sinais de ter firmada a ideia de um segundo mandato, pese embora Morais Sarmento alegue o seu "estatuto jurisdicional" para se reservar, o mais certo é vermos, em poucos dias, o pugilista calçar as luvas e ir para o ringue, com ganas de dar muita luta. Os bravos costumam ser assim.

terça-feira, 9 de março de 2010

PEC, trabalhar para comer

Se a Oposição pede mais uns dias para analisar o PEC, que há-de dizer o cidadão?
O instrumento governamental, em fase de apresentação aos partidos e parceiros sociais, sabemo-lo, almeja chegarmos a 2013 com o deficit do Estado na casa dos 3% do PIB. Tal meta implica que façamos cortes nas despesas (e encaixes em receitas), na ordem dos 11 mil milhões de euros. Para que o contrato-promessa de Portugal com Bruxelas tenha eficácia, por assim dizer, o Governo precisa de recolher o apoio de uma maioria, de que não dispõe, no Parlamento. Se CDU e BE vão votar contra e o PS vai votar a favor, a bola fica, mais uma vez, do lado do PSD e do CDS/PP, os quais, por muito que digam assim e assado, frito e cozido, irão acabar por viabilizar o documento. Até aqui, nada de mais. Compreende-se que cada um queira fazer o seu cubo mágico com a despesa, consoante aquilo que considera prioritário ou supérfluo. Tal qual como no Orçamento. Acontece que, está visto, se o CDS/PP vai voltar a dar uma de responsável, já no PSD - que fala a 4 vozes pelo menos, a de Ferreira Leite mais a de cada um dos candidatos - aquilo que à primeira vista poderia ser entendido como uma fragilidade pode transformar-se num sarilho. Para o caldo entornar, basta que um dos candidatos melhor colocados na corrida laranja vá de dedo em riste dizer a Mafra que discorda das orientações vertidas no PEC, e que a assumpção de qualquer compromisso antes das Directas não compromete a sua liderança…

Mas o mais espantoso na discussão/PEC não são as divergências sobre o modo de cortar com justiça social. É no que toca ao crescimento! Emagrecidas as contas para um cinto de 3% e dando por adquirido que as Finanças ficarão controladas, pergunta-se, e a Economia? Vamos viver do quê? Já é tempo de deixar de dizer vacuidades, do género “criar estímulos", "apoiar as PME´s", "incentivar a excelência", etc. Ora, eis uma boa oportunidade para quem se propõe governar o País. Que tal dizer qualquer coisita, a propósito dos vectores estratégicos em que a nossa economia deve apostar? E como é que isso se traduz na prática?
Para mais, quando em 2013 já este PEC estará velho, e teremos, imprescindivelmente, de aprovar uma nova «cartilha económica», ou não fosse o ano em que secam os fundos comunitários, tendo Portugal de trabalhar mais e melhor, se quiser comer.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O tal circuito

Quem, de repente, descobre agora em Aguiar Branco montes de qualidades políticas e até características de liderança, tenha lá paciência, sff. Talvez não fosse mau refrescar a memória de alguns sobre o itinerário público do Ilustre advogado do Porto. Não seria preciso recuar muito…

Por outro lado, será pífio vir com o argumento de que foi um bom líder parlamentar e até sovou Paulo Rangel no debate. Ora, Rangel, antes de Aguiar Branco, também foi um bom líder parlamentar e também sovou Vital Moreira nas Europeias… e, nem por isso, essas conquistas fazem dele Líder de coisíssima alguma.

domingo, 7 de março de 2010

A Revolta do Aparelho

Por que é que Passos Coelho está prestes a ser o Chefe do PSD?


1º. Começou a palmilhar o Partido, ainda não tinha mudado de voz. Com o advento do cavaquismo, ascendeu à liderança da JSD e tornou-se um símbolo da Geração Jota para pequenos profissionais de todo o País, que pensavam que o Maná das maiorias absolutas e da sobreposição entre Laranjas e Estado era fonte inesgotável. Se frutos foram colhidos, "vícios" e fundas expectativas foram aí criadas. A factura havia de chegar;

2º. Depois, com o princípio do descalabro, em 1995, de Guterres para cá (com o fugaz intervalo de 2002/05) a longa travessia do deserto, agravada por reveses em catadupa, em vez de renovar o Partido, cristalizou-o e ensanduichou completamente a tal geração, que hoje anda na casa dos 45 e desde os 20 que não respira. Sempre calcada por quem tinha 25 anos no 25 de Abril e passados 30 anos de exercício de cargos políticos, hoje ao redor de 55, quando não daí para cima - ainda se sentem jovens. Tanto assim é que não conseguem deixar de olhar para os novos como putos, esquecendo-se da idade que tinham quando começaram a subir nos palanques e a ser eleitos para isto e para aquilo, sem nunca mais parar desde então;

3º. Esse afunilamento, por um lado, com a míngua de Poder, por outro, foi cavando um fosso enorme, cujas sequelas estão à vista, para as quais ainda muito contribui o sentimento que perpassa na Geração Jota; é pródiga em canudos, viaja mais, tem mais acesso a todo o tipo de informação e manuseia as engrenagens estatutárias, a vida das secções, a composição das listas, as acções de campanha e a comunicação social melhor que ninguém. Numa palavra, a máquina pertence-lhe;

4º. Ora, como é bom de ver, esta gente, num Partido à deriva e sem pão para distribuir, está farta de ser subalternizada, de permanecer na segunda linha, e de a cada eleição servir de pau para toda a obra, servindo à mesa a papa dos outros. Esta gente pressente que se não tomar as rédeas do Partido agora, morre, pura e simplesmente;

5º. Quem melhor que Pedro Passos Coelho para comandar estes novos proletários, vestidos de fato, gravata e com uma calculadora no bolso, que já entregaram mais de metade da vida ao Partido e continuam a sentir-se tratados como pessoal menor? PPC é a personificação de cada um e surge, assim, como o libertador de todos, pronto para soltar o Grito do Ipiranga;

6º. Quando uma multidão, como a maioria daqueles que vão estar em Mafra, apoiantes de PPC, está no limite, entre ser excluída e garantir a vida, ai de quem lhes faça frente de barriga cheia!

7º. Aguiar Branco e Paulo Rangel podem fundir-se, podem arrojar-se, podem espernear, podem até transfigurar-se no Congresso. Nada do que fizerem demove ou abala a fé dos descamisados;

8º. A ironia do destino é serem, alegadamente, sectores cavaquistas a tentar parar a Revolta de Passos em 2010, quando foi o mesmo cavaquismo que, nos idos de 85/95 achava muita graça aos meninos de então. Esqueceram-se que eles iam crescer;

9º. O turbilhão passista que aí vem é apenas a mais natural das consequências de um salto geracional que, por não ter sido, será agora arrancado a ferros;

10º. Quem não perceber isto, é sinal que nunca viu mais que para lá do palco, das luzes, e das figuras do PSD, nunca tendo olhado para o que há muito estava guardado, atrás do pano: Soldados, prontos a tomar o Partido de "assalto" e a fazê-lo seu.

Boas línguas

Ontem foi curioso, no mínimo, ver os comentadores/residentes do programa “Eixo do Mal” tecerem comentários a Francisco Pinto Balsemão, a propósito das declarações do dono do Grupo da SIC/Expresso, na Comissão de Ética do Parlamento.

Com mais autenticidade ou menos à vontade, com mais riso ou menos gravidade, com mais irreverência ou menos potestade, o certo é que, conservado o respeitinho, quase todos, um pouco atrapalhadamente, optaram por mandar umas chalaças o melhor que podiam, umas no cravo e outras na ferradura, até que o assunto passasse adiante.

Não era caso para tanto.
Os nossos temíveis comentadores hão-de saber que uma opinião para ser justa e respeitável não carece ser untada, inclusive quando tem de recair sobre quem passa o mensal cheque. O Dr. Pinto Balsemão está muitos furos acima da turma, como bem fez notar Clara Ferreira Alves, na passagem que relatou.

sábado, 6 de março de 2010

É expresso

Segui com atenção o “Expresso da Meia-Noite”. Ricardo Costa e Nicolau Santos tiveram pouco trabalho. Escolheram bons convidados (um senhor que lá estava, desconheço) e o tema da semana fluiu, sendo ali bem feita a escatologia do PSD. Para lá de ter sido certeira nos pontos-chave, teve ainda o sal e os temperos de uma conversa viva e interessante, onde nem faltou a chama de legítimas preferências veladas, sobretudo da parte de Maria João Avillez, visivelmente acalorada no entusiasmo isto, certamente por ter estado muito ligada ao Partido, nos anos seguintes à sua fundação.
Ângela Silva, a jornalista que mais sabe do PSD em toda a imprensa portuguesa, menos assolapada, embora sem perder espontaneidade, fez um óptimo contraponto a MJA, aduzindo comentários estimulantes, tão incisivos quanto pertinentes. José Adelino Maltez, veio dar preciosa colaboração ao fazer uso do seu estatuto senatorial, saindo em defesa dos jovens turcos e despoletando um ponto importante; convida a pensar sobre por que razão os políticos da «escola Jota», ultimamente produzidos, não hão-de ser tão capazes como os clássicos, cheios de pedigree, como se pudessem ser apenas aceites os oriundos de certos meios. Portanto, quase tudo o que era essencial ficou ali dito esta noite, na análise de um PSD em vésperas de Congresso.

Já quanto a um dos 3 principais candidatos à liderança do Partido ter estofo para ser candidato a Primeiro-Ministro, aí é que são elas... como são intelectualmente honestos, nem os melhores analistas e os comentadores mais experimentados, por muito que se esforcem, nem assim conseguem ver Aguiar Branco, Passos Coelho ou Paulo Rangel subir as escadas de São Bento para governar Portugal, na maior crise do pós-25 de Abril. É que, de federar tribos a fazer circuitos de carne-assada até conferenciar em institutos, a assumir o comando Executivo ainda vai uma "ligeira diferença", convenhamos. É expresso. Dada a volta à roda, o resultado é o lugar de partida. Até que alguém decida quebrar essa espiral e corte a direito.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Pura gasolina

A capa do jornal “Sol”, hoje nas bancas, não é exercício da liberdade de expressão, não é legítimo contra-poder, não é direito à informação, não é serviço à opinião pública, nem tampouco é um ataque cerrado à terceira figura do Estado. É artimanha pidesca, é usurpação de poder, é ilegítima panfletária, é despudorada manipulação, é uma golpada fria, cobarde e malvada no que ainda faltava esquartejar nos Direitos, Liberdades e Garantias que, de Fundamentais, pouco mais lhes sobra que o facto de continuarem escritos no texto Constituição da República, diante do espatifamento de uma Democracia agonizante.

José António Saraiva pode ter todas as razões do mundo para largar fósforos a José Sócrates. Faz parte do jogo. Mas daí a regar o País com gasolina, não é jogo; é abismo e demência! Sonoras gargalhadas loucas que, num ápice, passarão a gemidos afónicos e dolorosos, com Portugal consumido por labaredas infernais, sob céu denso, forrado a chumbo, onde nem um raio de sol espreitará.

Aguiar Branco 1 - Paulo Rangel 0

Paulo Rangel tornou a perder o segundo debate, desta vez às mãos de Aguiar Branco. Não é simpático dizê-lo, mas parecia um miúdo ao pé de um tioum estagiário à frente do patrono. Está a demorar a aprender as técnicas do despique, para além, mais grave, de ainda não ter mostrado fibra, nervo, raça, instinto… pulso! Por outro lado - e não é por ter 4 anos de militância - vai dando mostras que conhece mal o PSD. A parcimónia e o ranço com que conclui as análises é sensaborona. Não diz nada a um Partido exaurido e faminto. Aquele Partido é como um tubarão atrás do rasto de sangue. E Paulo Rangel não sangra nem faz sangrar. A continuar assim, quando chegar ao Congresso - então com Pacheco na comitiva! - ou muito me engano, ou Rangel vai ver coisas que nunca imaginou ver na vida… é que aquilo não é nenhum conselho pedagógico e muito menos um salão de chá.

quinta-feira, 4 de março de 2010

À navegação

Importa fazer referência aos posts publicados neste Blogue, sob título "Para que conste" em arquivo. Para que conste outra vez:
O Autor deste Blogue é pela constituição de uma nova força política em Portugal, que deve emergir e impor-se como refundadora do centro/direita, assumindo consonância inteira e efectiva ligação à sua base social de apoio. Uma alternativa funcional e programática clara. Que se proponha reedificar a organização do Estado, revitalizar a democracia e arrebatar os portugueses para os desafios que urge sejam incrementados. De modo a que o nosso País melhor saiba potenciar todos os seus recursos e, assim, possamos restaurar a dignidade, o entusiasmo e o bem-estar que faltam.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ei-los que partem

Que os portugueses, podendo, gostam de uma escapadela, sabemos nós.
Que o Primeiro-Ministro vá a Moçambique, compreende-se.
Que o Presidente da República rume a Andorra, já é mais pitoresco. Será que alguém se importa de explicar esta Visita de Estado?
Ah, pois... as nossas comunidades emigradas no Principado.
E aqueles que ainda estão cá dentro, prestes a fazer as malas e partir, à busca de pão noutras paragens? Não merecem um Roteiro?

Pedro Passos Coelho 1 - Paulo Rangel 0

Pedro Passos Coelho ganhou o debate a Paulo Rangel. As expectativas postas em Rangel estavam demasiado altas. Toda a gente invoca a vitória que obteve nas Europeias mas toda a gente esquece que nessas eleições PR ganhou contra um adversário muitíssimo fraco, eleitoralmente da 2ª Divisão. PPC é um profissional da política, um Jota, produto das escolas de carreira, ao invés de PR, que é mais académico. PR funciona por rasgos. Esta noite, não levava o trabalho de casa feito, para além de ter estado em estúdio sem inspiração e algo nervoso.

PPC, que se apresentou mais confiante, tira melhor partido da imagem e usou muito a táctica. Soube começar por encostar PR às cordas, recorrendo a subtilezas que o telespectador absorve sem dar conta:

- Tomou a iniciativa de perguntar a Rangel se podiam tratar-se por tu, deixando os Sôtores de parte, uma maneira velada e hábil de meter logo os títulos de Rangel no bolso;
- Raramente invocou nome do adversário, e nas raras vezes em que o fez, referiu-se a Rangel como, "o Paulo" (enquanto que PR, ao invés, nem uma vez disse "tu, Pedro" mas sempre "o Pedro Passos Coelho") em tom de quem fala de sénior para júnior. Aprendeu essa lição nas eleições que disputou com Ferreira Leite e Santana Lopes, mais velhos e com currículos incomparáveis;
- Colou Rangel à derrota de Ferreira Leite e conseguiu deturpar o sentido do slogan «Ruptura», como quem diz à massa dos militantes, "Com este senhor lá, o nosso projecto não será de todos mas exclusivo de um grupinho de intelectuais";
- Foi espetando alfinetadas aqui e ali, do género, "não preciso de ler, estava lá", ou "tenho 30 anos de militância", etc., de modo a obrigar Rangel a ter, sistematicamente, de perder o tempo com reparos e auto-justificações;
- Matou no fim, quando disse a Rangel que este não vai ter de suspender o mandato no Parlamento Europeu, e depois, ainda «no ar» continuou a falar-lhe de cima para baixo.

Quanto ao essencial, não se tendo descortinado grandes divergências de fundo relativamente às questões económicas, a principal nota política que ressalta do debate, teve-a Pedro Passos Coelho. Tal como prevíamos, prepara-se para chegar ao Congresso e dizer que está pronto para eleições e preparado para Governar. Se a forma e o estilo não lhe tivessem bastado, essa mensagem teria valido a vitória. Ou não fosse aquilo que o PSD mais quer ouvir - poder voltar a sentir cheiro a Poder. É esse ópio que faz a diferença. Paulo Rangel, apesar das imensas capacidades que se lhe reconhecem, por até agora ter sido levado sempre num andor, parece que ainda não aprendeu isso.

Agora, os debates televisivos são o primeiro round. Os pesos-pesados só entram em ringue no Congresso. E os candidatos vão ter de confrontar-se com eles... a doer.

terça-feira, 2 de março de 2010

Debate PSD - sobe sobe, balão sobe

Ana Lourenço, de quem gosto, vai moderar o debate entre Pedro Passos Coelho e Paulo Rangel. À medida que se aproxima o Congresso os candidatos vão encher o peito, como balões de ar quente, a ver quem sobe mais.

É de prever que com o aumentar da parada os tiros para o Conclave (este, sem chave) não andem muito longe disto: "Caros amigos e companheiros, Portugal não pode esperar mais, o momento é grave, o País clama pelo nosso patriotismo, etc. Quero dizer-vos que, com a ajuda de todos, estou preparado para disputar eleições e pronto a assumir o Governo de Portugal!"

Pedro Passos Coelho, embora disfarçando por conter a avidez, já ensaiou este discurso na Renascença.
Paulo Rangel, embora mais blasé nas ambições, há dias dizia não sentir apetite, todavia não vai chegar a precisar de tomar óleo de fígado de bacalhau, pois a osmose com as hostes famintas vai encarregar-se de o destravar.
Aguiar Branco, embora mais ao estilo nem carne nem peixe, cuidando sempre de recatos e predicados, avança, seguro de si, para a Comissão de Inquérito, onde receberá a prestimosa ajuda do Intendente Francisco Louçã.

Quer dizer. Anteontem, era preciso que o Primeiro-Ministro desse explicações. A possibilidade de constituição de uma Comissão de Inquérito não se colocava, e eleições antecipadas nem pensar - uma tremenda irresponsabilidade. Orçamento e PEC assim o determinavam, em nome do superior interesse nacional.
Ontem, com o sopro de uma sondagem menos má, mais bases ululantes, mais a adição à augusta Comissão de Ética e a possibilidade de, desta feita, fazer potestativa história, chamando o PM à pedra, a coisa passou a afigurar-se plausível.
Hoje, com o processo em curso e as claques a caminho do coliseu em delírio, a possibilidade de eleições já é um cenário que deverá ser seriamente ponderado.

Mas que grande sentido de oportunidade política!
Mas que enorme sentido de Estado!

E depois ainda torcem o nariz a quem é mais espontâneo, intuitivo, frontal ou destemido, como, p.ex., Alberto João Jardim que disse logo, no dia do Conselho Nacional, o que estes três Senhores mais carradas de conselheiros levaram semanas a descobrir. Desta maneira, um deles Primeiro-Ministro em época de fogos, quando der pelo fumo o Verão já passou.  

Sem desprimor para a Ana Lourenço, a SIC, parceira da Globo, devia mas era chamar a Marília Gabriela. Tirava-lhes as máscaras em dois minutos. Com a graça de quem rebenta balões e ainda faz disparar audiências.

Decrete-se este exemplo ao País inteiro

Diz o i online, que reproduz notícia da Lusa:

(…) O Instituto de Emprego da Madeira vai disponibilizar aos serviços públicos, às autarquias das zonas afetadas e às instituições sociais e comunitárias envolvidas no apoio às populações atingidas a colocação de desempregados através do Programa Operacional de Trabalhadores Subsidiados, ao qual é dada toda a prioridade (…) O governo regional refere que "este programa não tem custos para as instituições", já que "os desempregados continuarão a receber a respetiva prestação social, acrescida de um subsídio complementar equivalente a 25 por cento da remuneração mínima, do subsídio de transporte, do subsídio de alimentação e de um seguro de acidentes pessoais.

Já todos vimos as impressionantes imagens da calamidade natural que se abateu sobre a Madeira. Temos podido observar agora o imenso trabalho em curso para remoção dos efeitos do desastre, sendo de realçar que, passados 8 dias, a Cidade do Funchal está praticamente limpa, em vias de recuperar o asseio que a distingue da grande maioria das cidades portuguesas.

O teor da notícia avançada pela Lusa deveria servir de exemplo a todo o País, Açores incluídos. A decisão, perfeitamente extensível às mais diversas áreas, (um jardim é apenas uma imagem), é das tais que não requer nem debates, nem estudos, nem pareceres ou consultoras. O diagnóstico está feito e a receita é só uma; fazer mais e melhor com os recursos disponíveis. Ou, afinal, Portugal não está num estado calamitoso? Será preciso decretá-lo? Decrete-se!

PS: Há muito que defendemos o enorme significado político que seria o "Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social" passar a denominar-se "Ministério do Trabalho e do Voluntariado". Mas no meio da crise que o País atravessa isso passa a aspecto de somenos. Outras Legislaturas virão.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A opinião de Vasco Pulido Valente - há muito que dizemos...

O fim do Regime?

Os regimes começam a cair pelos seus partidos. Portugal é um exemplo claro. Quando os partidos tradicionais da monarquia constitucional, o Partido Regenerador e o Partido Progressista, perderam qualquer espécie de identidade ideológica e programática, falharam sucessivamente no governo e se desintegraram em facções sem significado e sem destino, a República chegou. E, na República, quando o Partido Democrático de Afonso Costa, depois de 1918, deixou o seu jacobinismo original e passou a ser um conjunto de pequenos ranchos que se guerreavam, nada podia já impedir o 28 de Maio e a Ditadura. Mesmo a Ditadura se desfez, quando Salazar morreu, em bandos de "notáveis" que se detestavam e que pouco a pouco conseguiram paralisar Caetano.

A agonia desta II República, sob que vivemos, também está hoje à vista no calamitoso estado dos partidos parlamentares. O PC há 20 anos que não acredita na revolução e só quer impedir o governo de governar - seja ele qual for: da direita, do centro ou do PS. É um apêndice maligno, que dura contra todo o senso e toda a lógica. O Bloco, que não passa do PC da nova classe média, não serve para nada. Acabou por se tornar num grupo de protesto vociferante e vão, incompreensivelmente instalado em São Bento. E o PS, que Sócrates transformou numa tropa calada e reverente, vai desaparecendo agora, afundado (com razão ou sem ela, não importa) em escândalos de vária ordem e gravidade, e numa crise que não previu e não soube tratar. Como pode ele, sozinho, sustentar o regime?

Quanto ao PSD, Santana Lopes disse ontem que é, literalmente, uma "casa de ódios". Não vale a pena insistir na balbúrdia eleitoral em curso e na irremediável mediocridade dos candidatos. Ou no congresso extraordinário, que se reunirá em Março, ninguém percebeu ainda por quê e para quê. O PSD "precisa de salvação", como explicou Santana? Com certeza que sim. Mas, "precisando de salvação", como se propõe esse náufrago salvar o país? Falta falar do CDS ordeiro e laborioso de Paulo Portas, que não sai e parece que nunca sairá do seu cantinho. Por muitos méritos que lhe atribuam ou que, de facto, tenha, contar com ele não é realista. Na II República já não existem partidos. Existem sombras de partidos, restos de partidos, destroços de partidos. O regime não irá durar muito.

Vasco Pulido Valente, edição do "Público" de 27.02.2010